Pedra do Baú - S. Bento do Sapucaí - SP
A ESTÉTICA DA RECEPÇÃO
Leio um poema
de Ted Hughes em que sua amada Sylvia Plath
Declama poesia
para as vacas
E fico
imaginando como seria interessante dizer meus poemas
Para os
cavalos, os cachorros, as borboletas,
Talvez para o
papagaio – dizem que o papagaio é ótimo ouvinte
E é disso que
o poeta precisa: ótimos ouvintes.
Os animais
podem muito bem ser melhores ouvintes
Do que os
homens ou as mulheres sonhadoras ou palradoras.
Sim: pelo
menos os animais não palram nem sonham.
Certo, alguns
animais palram
Mas nenhum
sonha
E um poema é
para ser ouvido muito acordado,
Com todos os
sentidos atentos.
O mal dos
homens e das mulheres é não terem os sentidos atentos.
O mal dos
animais é outro.
Os animais
também não servem para serem ouvintes de poesia.
É que o poeta
fala por imagens,
Diz vermelho e
azul e verde e amarelo,
Diz luz e
movimento,
Diz sangue e
céu,
Diz tanta
coisa para não dizer a ideia que está por trás das coisas.
Os animais
veem as coisas e pronto.
Os animais não
têm noção de beleza e efêmero,
De eterno e pó
e abismo e Deus.
A poesia
existe porque os homens complicam demais a vida.
Os animais
veem a vida como uma coisa simples.
Não precisam
de poesia.