sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Eu sou (o morto)


 
 
 
 

EU SOU

  

A voz do morto
A mudez do morto
A nudez do morto
Os olhos do morto
O silêncio do morto
A dor do morto
O corpo do morto
O nariz do morto
Os ouvidos do morto
A língua do morto
A inquieta língua do morto
A angústia do morto
A palidez do morto
A perplexidade do morto
O poema do morto
O prodigioso poema do morto
 
 

 

 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O MORTO


 

O MORTO



É incompreensível a profecia dos vagões ferroviários
Desfio a minha história bíblica nos dormentes do inverno
Na minha infância eu brincava com ossos do Paleolítico
O tempo eram gotas de chumbo pingando do telhado

Na escuridão não sei se ouço a voz do meu pai ou a minha






 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

SERENIDADE





         SERENIDADE

 
Aprenda a olhar a sua imagem no espelho
Como olhamos para as coisas alheias
Você é apenas uma coisa entre as coisas
Essa é a aprendizagem que cura o coração de todos os males


Use a si mesmo como usamos as coisas
Com a serenidade que só as coisas têm
Como as panelas que brilham na cozinha
E as estrelas já apagadas no céu distante

 

 

 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

À BEIRA DO BURACO NEGRO

           Elin Danielson-GambogiA Girl by the Oven 1894 
 
 

 

                                 À BEIRA DO BURACO NEGRO

 
No deserto estou rodeado de homens
Na multidão estou só
No espelho não me vejo
Com os olhos vazados verei a mim mesmo
E aos outros homens
Se estou vivo nada sei da morte
Se morrer? Somente com a morte me libertarei
Do outro
Quebrei relógios como quebrei espelhos
Serei sempre o afogado à beira do buraco negro
 

 

 

 

 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O SILÊNCIO DE MUNCH

 
 
 
A PONTE DO SILÊNCIO
 
Um quadro de Munch uma boca esquálida as ondas concêntricas
Sobre a ponte e o título Silêncio
Uma lâmpada paira bruxuleia entre os vãos da ponte
O dia é amarelo e sujo e doente nos vidros da janela
O silêncio me penetra como um dardo envenenado
A ponte balança
A ponte balança
A ponte balança
A ponte balança sobre o caos sob as nuvens do céu amarelo





 

domingo, 5 de janeiro de 2014

"Caveira com cigarro aceso", Vincent van Gogh

 
 
 
 
“Caveira com cigarro aceso”, Vincent van Gogh
 
Os nossos vícios não nos abandonam
Nem depois de mortos
Quando mostraremos os dentes
Numa eterna risada de escárnio e dor
 
 
 

sábado, 4 de janeiro de 2014

ESPELHO DA MEMÓRIA





ESPELHO DA MEMÓRIA
 
 
O poema é um espelho da memória
O cristal é transparente
As palavras não
A escuridão interior mora no brilho claro