quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Uma rosa caída


 

                                            Uma rosa caída
                                            numa mancha de óleo na água.
                                            A lua chora no alto.





             

 

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Amar o sol (parlenda)

 


Amar o sol

 

 

Amar o sol sem esperança

amar a pedra sem esperança

amar o precipício sem esperança

 

depois mergulhar no azul

depois ignorar toda vertigem

depois voar como um morto

 

a vida é bela como um girassol

a vida é mais bela do que uma palavra

a vida é mais bela do que um anzol

 

a poesia não pode ser levada a sério

a poesia no bolso ou nas unhas

a poesia como um copo velho

 

José Brandão 2012

 

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Gênese - Antes da palavra

                                              


 

 

Gênese

 

No princípio era o mato

o meu pai reinava

sobre os bois e as vacas

o café o milho e o pasto

 

Eu olhava as estrelas

no alto dos coqueiros

os coquinhos em fogo

caindo no pasto

 

Como era grande o mundo

visto aqui de baixo

à sombra da figueira

sob as raízes amorosas

 

Eu ouvia o silêncio

no pisca-pisca do pirilampo

sob o manto imenso

do escuro quieto

 

Deus morava comigo

eu sonhava Deus no mato

sonhava Deus no pasto

minha mãe na porta de casa

 

Eu tinha os sete sentidos

na ponta da língua

nem era preciso

aprender a alegria

 

 

sábado, 3 de dezembro de 2022

História

                         


 

           

História

 

 

 

Eu já fui uma criança feliz

sem ideais

nem palavras

ou outros acessórios

 

As árvores me bastavam

os galhos e os troncos carregados

de pássaros e de jabuticabas

 

O jardim em frente de casa

tinha todas as flores

minhocas lagartos e lagartixas

 

Eu tinha um cavalo alazão

tinha até um unicórnio

rodeado de mil borboletas

 

De repente fiquei sábio como o orvalho

sobre o estrume no pasto das vacas

como se eu conhecesse o mistério

de Deus e do universo agrário

 

Tudo era agrário naquele tempo

tudo deveria ser ágrafo naquele tempo

quando nem o tempo existia

 

Meu pai fazia vassouras na cozinha

contando histórias do novelo da memória

com a sabedoria dos velhos patriarcas

 

Minha mãe tinha uma arca de costura

costurava os caminhos da vida

com a diligência de uma profetisa

 

Um dia acordei fora de casa

fora de qualquer espelho

ainda inundado de luz

 

mas cego

um cego guiado por um cachorro cego