domingo, 25 de março de 2012

A TARTARUGA




 

     A TARTARUGA


A tartaruga vai tão devagar
como se imóvel fosse – eppur si muove.
Nasce na areia condenada à morte,
só por um fio consegue escapar

e, solerte, se apega tanto à vida
que bem parece não morrer jamais.
Essa é a lentidão da tartaruga.
Move-se devagar porque o horizonte

é sempre mais além de outro horizonte.
Existir é memória. Um ovo ao sol
cozinhando na areia ao som do mar.
A sua casca é dura como a pedra

e é o seu próprio corpo, pele e osso.
A tartaruga pesa como o mundo.
Leva nos ombros a beleza e a dor,
o êxtase e o mistério de existir.





(poema do "Livro dos bichos", Prêmio Jorge de Lima 2011, da U. B. E. - RJ)






2 comentários:

Unknown disse...

LINDO E REAL!

E vive cem anos ou mais. Sempre pensei que se eu fosse tartaruga ficava ali na areia esperneando sem nunca alcançar o mar.

Beijos, J.C.Brandão!

Mirze

Adriana Godoy disse...

Eta, mais um porreta. A tartaruga, o tempo, o peso do mundo e uma estranha calma.


Beijoa