sexta-feira, 28 de outubro de 2022

A borboleta e a fechadura

 


 

A borboleta e a fechadura

 

 

O que a borboleta faz

pousada na fechadura?

 

Por que tanta sensibilidade

diante do insensível?

 

A beleza brilha e cresce

com a cor ou sua ausência.

 

A borboleta pulsa

como se sonhasse.

 

A ferrugem corrói o ferro,

o aço resiste.

 

Que é a vida ou a morte?

Um instante no infinito.

 

As estrelas caem

como diamantes.

 

A borboleta é frágil

no labirinto das coisas. 

 


 

 

 

 

 

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Antes da palavra

 


Antes da palavra

 

 

No princípio era o mato

o meu pai reinava

sobre os bois e as vacas

o café o milho e o pasto

 

Eu olhava as estrelas

no alto dos coqueiros

os coquinhos em fogo

caindo no pasto

 

Como era grande o mundo

visto aqui de baixo

à sombra da figueira

sob as raízes amorosas

 

Eu ouvia o silêncio

no pisca-pisca do pirilampo

sob o manto imenso

do escuro quieto

 

Deus morava comigo

eu sonhava Deus no mato

sonhava Deus no pasto

minha mãe na porta de casa

 

Eu tinha os sete sentidos

na ponta da língua

nem era preciso

aprender a alegria 

 

 

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

A borboleta vermelha


 

 

A borboleta vermelha

 

 

A borboleta paira no ar

com as suas asas vermelhas.

É como se não existisse

na dança com a sua sombra.

 

É um elipse de ser e tempo

sobre as pedras.

Como sobrevive

tamanha fragilidade?

 

O seu voo é muito breve

mal começa, já acaba.

Penso na brevidade da vida,

quase um nada.

 

A borboleta dança no ar

com as folhas e o pó.

Eu a contemplá-la extasiado

antes que seja apenas memória.