A cigarra desfia a porteira da tarde. Eu sou uma
moringa d’água porejando. O cachorro deitado na sombra fresca, de língua de
fora, abana o rabo.
As rãs fazem festa na beira do rancho e as
ingazeiras conversam com os inhames. As porcas se espojam na lama gostosa, a
caranguejeira sai do ventre da terra.
O bugio coça o queixo, boceja com preguiça. Os
cupins fazem a sesta sob os andaimes. O camaleão bota a sua farda verde e cinza
e destila a paisagem no bico de uma flauta.
A minha voz molhada pinga de uma árvore. É cor da
terra e vai caindo de manso.
*
No jamelão, a cigarra queima a tarde. As maracanãs
desenham a paisagem de vaias verdes. A mula baia se coça na peroba; o pau
d’arco pelado instiga a sede.
O cachorro fuça o chão da invernada, a jaguatirica
cisca, observa de banda. A cascavel deixa a casca ao pé do coqueiro, deixa os
guizos na minha mão de menino.
A paisagem de ontem era um cacto ao sol. Eu plantei
a semente com uma palavra, as vaias verdes das maracanãs nos meus olhos. Eu
entardeço com a cigarra na língua.
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