quinta-feira, 25 de abril de 2013

OÙ SONT LE NEIGES D'ANTAN






OÙ SONT LE NEIGES D'ANTAN


Onde estão
as folhas douradas
da infância?

Quem foi que enterrou
os meus soldadinhos de chumbo
que nunca mataram ninguém?

Não sei que horas são
o meu relógio parou
fora do tempo

O teu seio esquerdo
com um halo
como a lua

Repousa ao sol
como um folha dourada
a borboleta

Os cravos rosados
crescem entre as pedras da rua.
O dia é perfeito.

Aquiles e a tartaruga
nunca chegarão
a lugar nenhum

Vamos para casa
a paisagem estará
aqui amanhã

O sol gira gira
o girassol na montanha
abelhas em volta

Vamos para casa
antes que o sol se ponha
a noite é pesada

Os peixes no barco
os urubus se aproximam
os atobás aguardam

O quarto iluminado
os lençóis brancos
e a lua cheia

O ouro da ferrugem
cobre as folhas da infância
para nunca mais





segunda-feira, 22 de abril de 2013

UM CÃO UIVANDO PARA A LUA (nova forma, nova ilustração)


                                                 ilustração do Jornal da Cidade, de Bauru, pág. Ao pé da letra, 21-4-13.






sábado, 20 de abril de 2013

O CÍRCULO





O círculo


Ela tinha um estranho círculo na costas
quase o formato de um ovo

circundado de letras estranhas
de palavra nenhuma

as letras não formavam palavra
nenhuma, repito

mas como doíam

Talvez fosse o formato de um pião
eu penso no universo

a terra girando como um pião
no caos da galáxia

as letras ainda não faziam sentido
menos sentido ainda

e doíam ainda mais







quinta-feira, 18 de abril de 2013

CÂNTICO DA MANDRÁGORA








                                   CÂNTICO DA MANDRÁGORA
As mandrágoras exalam o seu perfume, e à nossa porta há todo tipo de frutos finos, secos e frescos, que reservei para você, meu amado.
                                            Cântico dos cânticos 7, 13


Vou lhe dar uma raiz de mandrágora
vamos deitar juntos até o amanhecer
inebriados pela raiz de mandrágora
até o amanhecer

O seu corpo tem a forma de uma raiz
de mandrágora
O meu membro tem a forma de uma
raiz de mandrágora

Como somos poderosos com o
elixir da mandrágora
































quinta-feira, 4 de abril de 2013

O DESPERTAR





O despertar


Branco. A inocência primeiro.
O despertar. O itinerário súbito.
E a germinação do sempre
e do nunca, do não em tua
mão sem lua em que se apoiar.

Momento atemporal: sal urze
de inconcebível marco alheio,
cego o veneno verde verdeja
o corpo branco negro: diamante?
estalactite brônzea: pó, só.

Rosa? Memória ardência:
o relógio tiquetaqueia
fulvos gemidos. Flor rosa?
Carne lambril: onde camaleões
faíscam, gotejam verdes cogumelos do tempo.




Um dos três primeiros poemas do meu primeiro livro, O Emparedado, 1975, escrito em Duartina, SP, em 1971, junto a Gleba e Postura.