
O boi
O boi pastava borboletas no jardim.
Esse boi é tudo quanto eu quero.
Os bagres puseram o córrego de bruços
E escovaram os dentes com inhame.
A rã se ajoelha de toalha no pescoço.
O bem-te-vi repete a mesma paisagem,
As mesmas palavras têm anzol dentro.
O lagarto conhece cada gomo da pedra.
À beira da estrada uma árvore reza.
O poema se concentra nas coisas,
De ser coisa se basta como um moirão.
Carrego uma cobra no bolso da calça,
Com uma embira prendo na paisagem.
Na minha língua um boi está pastando.
19-2-2003
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9 comentários:
quase seis horas, brandão. há um coro de árvores aqui se preparando para a ave-maria... abraço.
Seu boi pasta poiésis! =)
Beijos.
AuÊêÊêÊêÊ boi Soberano!!!!
Há bois assim
com sorte nos jardins
O último verso surpreende o leitor. Adorei!
Bela imagem, belo ese poema-boi, ou boi-poema. Jc, sempre é bom vir até aqui para me deleitar com seus poemas. Beijo.
Seus poemas criam e recriam o que a natureza exibe e esconde com uma fluência e a naturalidade de quem sabe tudo. A gente lê e aprende.
Beijo.
é a primeira vez que vejo uma poesia de inspiração bovina, valeu!
Brandão,
"O poema se concentra nas coisas,
De ser coisa se basta como um moirão".
Quando se sabe capturá-las com palavras com anzóis dentro. Do contrário, seria Pintura. Ou Presença além-aquém palavra.
Abração.
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