domingo, 6 de junho de 2010

O boi




O boi

O boi pastava borboletas no jardim.
Esse boi é tudo quanto eu quero.
Os bagres puseram o córrego de bruços
E escovaram os dentes com inhame.

A rã se ajoelha de toalha no pescoço.
O bem-te-vi repete a mesma paisagem,
As mesmas palavras têm anzol dentro.
O lagarto conhece cada gomo da pedra.

À beira da estrada uma árvore reza.
O poema se concentra nas coisas,
De ser coisa se basta como um moirão.

Carrego uma cobra no bolso da calça,
Com uma embira prendo na paisagem.
Na minha língua um boi está pastando.

19-2-2003
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9 comentários:

nydia bonetti disse...

quase seis horas, brandão. há um coro de árvores aqui se preparando para a ave-maria... abraço.

Anônimo disse...

Seu boi pasta poiésis! =)

Beijos.

Anônimo disse...

AuÊêÊêÊêÊ boi Soberano!!!!

Mar Arável disse...

Há bois assim

com sorte nos jardins

Gerana Damulakis disse...

O último verso surpreende o leitor. Adorei!

Adriana Godoy disse...

Bela imagem, belo ese poema-boi, ou boi-poema. Jc, sempre é bom vir até aqui para me deleitar com seus poemas. Beijo.

dade amorim disse...

Seus poemas criam e recriam o que a natureza exibe e esconde com uma fluência e a naturalidade de quem sabe tudo. A gente lê e aprende.

Beijo.

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

é a primeira vez que vejo uma poesia de inspiração bovina, valeu!

Marcelo Novaes disse...

Brandão,



"O poema se concentra nas coisas,
De ser coisa se basta como um moirão".



Quando se sabe capturá-las com palavras com anzóis dentro. Do contrário, seria Pintura. Ou Presença além-aquém palavra.





Abração.