O SOBREVIVENTE
Deus se tornou uma palavra
inútil.
O amor se tornou uma palavra
inútil.
As minhas mãos tecem os
trabalhos e os dias.
Já não sei chorar.
O meu coração é de gelo.
Não quero saber mais das
mulheres ou das crianças.
Estou sozinho no escuro
onde a minha solidão é maior
e posso vazar os meus olhos em
segredo.
A velhice pesa como chumbo.
Já não aguento o peso do mundo.
O homem é um animal com a morte
nos olhos.
Os ratos já roeram o edifício,
o suicídio não é mais a questão
capital da filosofia.
Vivo um tempo em que é inútil
morrer.
Sobrevivo a mim mesmo como um
bagaço no chão.
Este é o tempo dos cegos.
A vida é o caos.
A vida não tem mais nenhuma
justificação.
Poemas da quarentena (1)