terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

NOTURNO DOLORIDO




NOTURNO DOLORIDO


Atrás da janela escura, como no fundo de um lago,
uma criança dorme.
Um avião cruza o céu, sacode o quarto da criança.

Os homens na rua transformaram-se em pedra
e vestem armaduras de metal
que o vento chacoalha.

Ninguém se lembra, ninguém foi testemunha
do meu sofrimento.
E um grito aflito atravessa a noite, as estrelas, as almas.

Os telhados pendem, pesados, aterradores.
As mulheres têm sangue nas garras e nas asas cortadas.
As casas navegam nos nevoeiros, adernam, naufragam.




3 comentários:

Gustavo disse...

Somos seres estranhos uns aos outros. Sua belíssima poesia me remete às indiferenças com que tratamos as casas dos outros, os problemas que não são nossos.

Refleti demais!!

Aplauso!

Jota Brasil disse...

Eu costumo lidar mal com essas coisas e (Talvez por minha doença) procuro ficar alheio... mas dentro do seu poema, viajo por outro lado da coisa e aTÉ CONSIGO refletir sobre a dor e o sofrimento...
show de bola, professor!

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

Esse poema me fez pensar várias coisas, Brandão. Os homens que se transformaram em pedra, as armaduras de metal, e tudo sacode com o vento, com o avião... tudo é impermanente, inclusive a própria vida. abs