A VÊNUS DE
GESSO
Eu tinha uns sete anos de idade e subi
Numa penteadeira
(Para ver minha imagem
No espelho?)
E quebrei em mil pedaços o busto de
Uma Vênus de gesso
Você só faz arte, disse
Minha mãe
Foi o vento, eu disse
Estou brincando com
a ideia de Gérard Genette de que todo texto tem o seu palimpsesto. Certo que
simplifiquei quase ad absurdum. Mas escrevi A Vênus de Gesso lembrando A
Estátua de Gesso, de um ano antes, que não me satisfazia.
Escrevi A Estátua
de Gesso e postei no blog do Gregório Vaz em fevereiro de 2011. Lembrando-me do poema, lembrei-me de que o
achava palavroso, pretensioso, etc. – ruim o suficiente para ir apenas para o
blog do Gregório.
Escrevi A Vênus de
Gesso com a intenção de tirar um pouco da gordura do primeiro poema. Como
magreza não é sinal de qualidade, vejo no poema um tanto gordo uma força que
este não tem. As garras da poesia?
Quem quiser
comparar, aqui está o primeiro poema, muito a grosso modo o palimpsesto:
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Vou
falar mais uma vez da estátua de gesso
que
eu quebrei quando era criança.
Disse
à minha mãe que o culpado foi o vento,
eu
não era um artista,
nem
sabia o que era isso.
Esse
é o destino dos poemas: foi o vento.
Os
poetas nem sabem mais o que é isso.
Gozado
como continuam fazendo poesia
com
um ar de intelectuais
que
dominam a sua arte
de
intelectuais.
Como
se a arte fosse um objeto intelectual.
Pior,
como se isso fosse uma condição sine qua non
para
um poema ser um poema.
Havia
um espelho por detrás da estátua de gesso.
O
espelho refletia a estátua de gesso
e
refletia a minha cara de espanto e medo infantil.
Eu
não sabia,
mas
começava a conhecer o espanto e o medo –
essas
condições para um poema ser um poema.
Há
outras, mas o mundo caminha para o fim tão depressa
que
não há tempo para enumerá-las
nem
adianta.
(Se alguém quiser vê-lo
no blog do Gregório:
Um comentário:
Obrigado pelo ensinamento, Brandão. Você dobrou a arte, simplificou-a. A primeira poesia é interessante, mas tem um fundo moral sobre a arte nela. Nesse último, a "arte" está mais fluida, mais grandiosa. Abraços.
Postar um comentário