quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A VÊNUS DE GESSO - o texto e o palimpsesto







A VÊNUS DE GESSO





Eu tinha uns sete anos de idade e subi

Numa penteadeira



(Para ver minha imagem

No espelho?)



E quebrei em mil pedaços o busto de

Uma Vênus de gesso



Você só faz arte, disse

Minha mãe



Foi o vento, eu disse








Estou brincando com a ideia de Gérard Genette de que todo texto tem o seu palimpsesto. Certo que simplifiquei quase ad absurdum. Mas escrevi A Vênus de Gesso lembrando A Estátua de Gesso, de um ano antes, que não me satisfazia.
Escrevi A Estátua de Gesso e postei no blog do Gregório Vaz em fevereiro de 2011.  Lembrando-me do poema, lembrei-me de que o achava palavroso, pretensioso, etc. – ruim o suficiente para ir apenas para o blog do Gregório.
Escrevi A Vênus de Gesso com a intenção de tirar um pouco da gordura do primeiro poema. Como magreza não é sinal de qualidade, vejo no poema um tanto gordo uma força que este não tem. As garras da poesia?
Quem quiser comparar, aqui está o primeiro poema, muito a grosso modo o palimpsesto:

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
A ESTÁTUA DE GESSO

Vou falar mais uma vez da estátua de gesso
que eu quebrei quando era criança.
Disse à minha mãe que o culpado foi o vento,
eu não era um artista,
nem sabia o que era isso.

Esse é o destino dos poemas: foi o vento.
Os poetas nem sabem mais o que é isso.
Gozado como continuam fazendo poesia
com um ar de intelectuais
que dominam a sua arte
de intelectuais.
Como se a arte fosse um objeto intelectual.
Pior, como se isso fosse uma condição sine qua non
para um poema ser um poema.

Havia um espelho por detrás da estátua de gesso.
O espelho refletia a estátua de gesso
e refletia a minha cara de espanto e medo infantil.
Eu não sabia,
mas começava a conhecer o espanto e o medo –
essas condições para um poema ser um poema.

Há outras, mas o mundo caminha para o fim tão depressa
que não há tempo para enumerá-las
nem adianta.


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(Se alguém quiser vê-lo no blog do Gregório:


Um comentário:

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

Obrigado pelo ensinamento, Brandão. Você dobrou a arte, simplificou-a. A primeira poesia é interessante, mas tem um fundo moral sobre a arte nela. Nesse último, a "arte" está mais fluida, mais grandiosa. Abraços.