O paraíso
Mais belas que as águas da minha terra
Somente a minha terra mesmo. A minha terra
E as árvores e as garças, e um boi e um bezerro.
As águas e tudo mais são parte da minha terra.
Quero que me enterrem debaixo de uma árvore
Para escutar os passarinhos da manhã à noite.
Talvez qualquer hora dessas eu saia voando.
Já aconteceu, voei até cansar, depois virei louco de novo.
Uma vez um gato me desfolhou de todas as penas,
Saí voando pela janela como um anjo pelado.
Os anjos vêm do iníco do mundo, depois ganharam penas
Coloridas como os passarinhos, e trinaram nas árvores.
Voltando a falar de beleza, tem o orvalho na flor de cereja,
Numa pétala de rosa. É um diamante líquido, mas trina.
Um passarinho vira uma palavra dourada e trina na gaiola,
Mas fora dela, no mato, que é um lugar chamado paraíso.
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Foto: O mato visto do fundo de casa (da casa da minha infância).
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11 comentários:
O paraíso é natureza pulsando no coração da gente em comunhão com a vida dentro de nós. Maravilhosa poesia, de verdade mesmo. Esse paraíso é alegria!
Bjs
Brandão,
Que declaração de amor mais linda a liberdade.
Gaiolas servem pros homens.
Bjinhos
Brandão,
Vc apresentou certo retrato do paraíso: vida se desdobrando em mais vida. Ou vida diversa.
Muito bom!
Abração.
José Carlos!
Não é preciso morrer para ir ao paraíso. Pelas mãos de um poeta como você, ele a cada dia se aproxima mais e mais. O melhor, é que neste paraíso, pode-se voar e sonhar.
Uma obra de arte, a imagem e o poema!
Beijos
Mirze
uma beleza [realmente pura]
os tons do 'paraíso'
a verve do poeta
dos pássaros, os guisos
lindo!!!!!
Meu querido Poeta
Como esse poema me fez voltar no tempo, adorei.
Beijinhos
Sonhadora
Ai, ai...tenho saudade dessa terra que não é minha...mas que se faz tão presente em seus poemas que chega a ser.
Sinto até o cheiro do mato...Beijo
Bom poder entrar neste paraíso que tua palavra cria, Brandão. O poeta rompe as amarras do óbvio, dos racionalismos, do mecanicismo da civilização. Que loucura boa, Sô, como diz o mineiro. Abração.
Se isso não é o paraíso...deve ser as portas dele..
Quando li o teu poema...há um verso que me trouxe tanta recordação...
Quando cheguei a Portugal, vinda de Moçambique por altura da sua Independência...eu dizia para os meus: Quando eu morrer...quero que as minhas cinzas sejam espalhadas no palmar da minha terra!
Acho que a força da terra-mãe...pulsa em nós como o sangue que nos alimenta...
Beijo
Graça
Agradeço por ter chegado por um caminho e encontrar tal blog...Um espaço organizado e de alta qualidade literária.
Parabéns, seguirei com toda certeza.
Abraço.
Quanto o poeta empresta assim os seus olhos, para lermos nas palavras as imagens que ele tece, sentimo-nos também como uma imagem onde a beleza tocou.
Isso é puro vislumbre, poeta.
Um beijo.
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