sábado, 14 de agosto de 2010
O dia da Criação
O dia da Criação
Todas as pedras floriram na primavera.
As flores ouviam o silêncio do orvalho.
Os passarinhos ouviam a conversa dos ventos,
Depois iam contar para as árvores à beira d’água.
Um gavião explode o azul. O céu parte-se.
Um barco inútil descansava numa enseada.
Eu tinha um beija-flor me bicando os olhos.
Dava vontade de morder a carne da manhã.
Eu era um caracol grudado numa pedra, com limo
Na boca, na língua e nos dentes. Eu era verde.
Eu não conhecia nenhuma palavra, como um sábio.
Todas as palavras eram novas, eu soprava e inventava.
Quando uma palavra se gasta, é preciso chorar e enterrar.
Mas para cada palavra morta nasce outra viva, esperneando
Como um lambari. As palavras pedem para nascer,
Voar e trinar. As palavras quando nascem são poesia.
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"O dia da Criação" - uma homenagem a Vinicius de Moraes.
Porque hoje é sábado.
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13 comentários:
tão maravilhosa poesia para Vinicius! As palavras nascem assim puríssimas, como a semente do fruto.
bjs
Olá meu amigo J. C.
A minha pedra é quase igual à tua.
E tens toda a razão. Acho que todas floriram na Primavera. Todas tem uma flor incorporada.
Um abraço
Victor Gil
"Quando uma palavra se gasta é preciso chorar e enterrar"...
Que maravilha de verso, bem como os demais!
Abraço!
Brandão,
Que bela percepção do Sopro Originário! [Ruach, Alento].
Muito bom!
Abraços.
Caríssimo amigo Carlos,
Tenho sempre a impressão de que sua poesia soa como versos cantados, há uma sonoridade intrínseca, ela penetra o ouvido do coração e toca as cordas mais delicadas do sentir,
numa profundidade absurda,
fico feliz de reencontrá-lo nesta caminhada virtual, desde que dedicou-me um poema de beleza ímpar eu o procuro, isto foi no começo de 2009,
eis o poema:
"O azul do céu e do mar nos teus olhos fundos.
Tudo são limites e enigmas, mesmo os teus olhos;
Neles uma rosa sangra como um punhal.
Delirávamos, em êxtase,
Com a beleza da morte dentro dos teus olhos.
Quem nos disse da presença divina?
No mar trágico dos teus olhos?
Você tinha a chave na língua,
Eu carregava a âncora nos ombros,
Pescamos cestos e cestos de peixes no mar dos teus olhos,
Você levantava muito alto um peixe cintilante na mão,
O peixe era formoso como a égua do crepúsculo.
Sentamo-nos à mesa e nos servimos de pão e vinho,
Com o mistério da morte e da vida nos teus olhos e nos teus lábios."
Coisa mais linda que já recebi em forma de poema,
Abraço sempre terno e fraterno!
Ester~
Simplesmente maravilhosa esa poesia e homenagem ao Vinícius, na certa, muito melhor do que terem dado agora, após 30 anos de sua morte, o título de EMBAIXADOR...
De que serve agora?
Acho o fim da picada isso!
Tua homenagem sim,VALEU! abração,chica
José Carlos!
Quero esta criação assim. Pura e bela. Demasiado BELA!
Grande, poeta!
Beijos
Mirze
JC, uma criação como essa...ah! Vinicius ficaria feliz. Beijo
Linda a homenagem, lindo poema.
Saudade daqui.
Beijo.
Olha eu só tenho a dizer, parabens, na verdade estou sem palavras p/ falar algo, nada me vem a cabeça, alioas tudo que vem é pouco pra elogiar seu cantinho de sonho, bom o que posso fazer e deixar minha imansa gratidão aki, pelos momentos lindos que aki passei.
com carinho
Hana
"Eu tinha um beija-flor me bicando os olhos.
Dava vontade de morder a carne da manhã."
Imagens que se eternizam
além da alma.
Abraço-te,
com terna amizade.
Amigo velho me fez chorar. A cada palavra nascida, faz viver um pouco este finito poeta.
Este poema renasceu em mim, e como é bom ouvir a conversa da natureza, ser bicada nos olhos para não enxergar aquilo que arde.
Lindo, lindo poema, adorei!
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