segunda-feira, 2 de agosto de 2010

As palavras e o mito




Irmão

Estrondeia livremente por onde passa.
Tivesse botas de sete léguas
Seria o jaburu planando sobre as águas.
Sabe a gabiroba no entardecer,

Sabe o beiço roxo da amora.
Tudo festagens da felicidade.
Quer rasgar todas as palavras,
Sabe o nome das coisas sem palavra no meio.

É um gigante que ninguém sabe,
Mato sabe e comunga.
Nasce um lago onde pisa
Com bagres e tizius floridos.

É criança e chora com todos os dentes
E ri com todos os olhos.
Tem doze olhos na ponta dos dedos,
Mais um para ver por dentro.


Irmã

Sentava no jardim.
Mastigava pétalas de rosa,
Comia bocados de terra,
Alguma raiz.

Quebrava caracol nos dentes,
Saboreava.
Estudava horas com o sapo
Meneios da língua,

Palavra em larva.
Atrás de casa desovava
Uma lagarta de fogo.
A pedra floresce do limo,

Do meu cuspe verde-negro.
Comia um carreiro de formigas.
Formiga na língua esperta a palavra,
Palavra com gosto de formiga inebria.

________

Estes poemas têm dez anos mais ou menos.

12 comentários:

chica disse...

Dez anos eles tem e estão lindíssimos! abração,linda semana,chica

Anônimo disse...

Lindos!
Ótima semana querido.
Bjs.

Mariana disse...

A vantagem dos poetas, que seus poemas e poesias estão sempre acompanhando o tempo, se encaixam em qualquer ano.
Lindo.

Unknown disse...

José Carlos!

sempre que venho aqui, fico mais rica em palavras e estrutura;

quase mitológico, lembrando Hidra e Hércules.

Fantástico!

Um forte abraço

Mirze

Marcantonio disse...

Pura epifania! As palavras engendram silhuetas mítico-poéticas.

Abraço.

Victor Gil disse...

Amigo J. C.
Dez anos ou vinte, é poesia sem tempo. As palavras não têm anos,
são como o vento.
Puxa, que até saiu rima sem querer.
Um abraço.
Victor Gil

Luiza Maciel Nogueira disse...

ah como gosto dessas tuas contemplações poéticas!

Beijos!

Eleonora Marino Duarte disse...

brandão,

os dez anos não os deixaram menos impressionantes! metáforas mastigadas com tanto carinho que emocionam as memórias que temos.

são belos, os dois!

abraços, poeta.

Marcelo Novaes disse...

Brandão,


Esse parentesco mitológico-telúrico é uma beleza!


[Lembra-me o que Enkidu pôde ensinar a Gilgamesh].





Abração!

Anônimo disse...

Desde sempre com uma raiz poética intensa.

Beijo.

Adriana Godoy disse...

Um casamento perfeito...muito lindo, atemporal. Beijo.

Fernando Campanella disse...

a alma voltada à terra, aos 'pré-saberes', a memória recuperando os encantos pela mitologia eterna.
Grande abraço, meu amigo.