quarta-feira, 22 de outubro de 2008

As brumas do eterno


Dois Córregos sou eu e meus fantasmas envergonhados

Os paralelepípedos sérios, conversando nas esquinas


À sombra dos lampiões da fábula, com óleo inextinguível

Uma vez vi um lobisomem sobre um muro, tinha dentes de bicho


E vergonha de homem. Fugimos devagar, um olhando para o outro

Na rua as sombras dos parentes mortos dialogando no escuro


E se apalpando para ter certeza de que estão mesmo mortos

O saci-pererê não andou por aqui, nem a mula-sem-cabeça


Nem o unhudo da Pedra Branca e suas jabuticabas bravas

Andou por aqui o meu avô e, antes, o meu bisavô João Ventura


Que abriu o sertão de um mato enorme, que chamou de Matão

Virou uma fazenda, multiplicada para os descendentes, amém.


Dois Córregos é o meu pai caminhando com os mortos no bolso

Orgulhoso daqueles mortos todos, que vieram povoar esta terra


E agora dormem com ele, refestelados nas brumas do eterno.



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