Dois Córregos sou eu e meus fantasmas envergonhados
Os paralelepípedos sérios, conversando nas esquinas
À sombra dos lampiões da fábula, com óleo inextinguível
Uma vez vi um lobisomem sobre um muro, tinha dentes de bicho
E vergonha de homem. Fugimos devagar, um olhando para o outro
Na rua as sombras dos parentes mortos dialogando no escuro
E se apalpando para ter certeza de que estão mesmo mortos
O saci-pererê não andou por aqui, nem a mula-sem-cabeça
Nem o unhudo da Pedra Branca e suas jabuticabas bravas
Andou por aqui o meu avô e, antes, o meu bisavô João Ventura
Que abriu o sertão de um mato enorme, que chamou de Matão
Virou uma fazenda, multiplicada para os descendentes, amém.
Dois Córregos é o meu pai caminhando com os mortos no bolso
Orgulhoso daqueles mortos todos, que vieram povoar esta terra
E agora dormem com ele, refestelados nas brumas do eterno.
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