O POÇO DA CIDADE
1
Mergulhou no
poço da cidade,
mas não para se
suicidar.
A lua e as
estrelas o chamavam.
2
É natural que
venha a velhice.
É natural que
venha a morte.
Só não quero
perder a minha loucura.
3
Precisei matar
os dois homens.
Levei comigo a mulher.
Nova vida
começava para nós.
4
Na casa velha
havia um homem sem cabeça,
uma mulher com
o ventre aberto
e três crianças
em volta, mumificadas.
E pediram-me
para não escrever sobre isso.
5
A sua pele
negra era de uma beleza estonteante.
À noite descobri-lhe
os cotos das asas de anjo.
Foi preciso
matá-la.
6
Fui encarregado
de exterminar os ovos.
Já imaginaram
uma proliferação de anjos
nesta terra
desolada?
7
Deus não é
possível.
Os anjos não
são possíveis.
Os homens estão
entregues à própria sorte.
8
Não sei nada da
minha vida ou da minha morte.
Carrego o
silêncio de uma pedra na cabeça.
9
Querem que eu
faça parte disto e daquilo.
Eu sou sozinho
como os ossos de um crânio sobre uma pedra.
Eu sou uma
sombra ao vento.
10
Fui um cavalo
selvagem.
Fui uma rosa
frágil, uma pedra, um rio.
Duvido que eu
seja um homem.
11
Não reconheço a
forma da minha cidade.
Estas pedras,
estes ferros retorcidos, estes fios soltando fogo
e a fumaça
saindo do ventre da terra à medida que as pessoas respiram.
2 comentários:
Brandão adorei principalmente:
"Fui um cavalo selvagem.
Fui uma rosa frágil, uma pedra, um rio.
Duvido que eu seja um homem."
as vezes eu tbm duvido.
beijo
MUITO LINDO!
A poesia é um caminho onde tudo é possível.
Beijos
Mirze
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