terça-feira, 29 de novembro de 2011

OS FUMOS DA CIDADE






























OS FUMOS DA CIDADE


      1
Trouxe para a cidade o perfume do mato
e o perfume das ostras e das gaivotas.
Viverão comigo até eu morrer.
 
2
Nas ruas da cidade,
sob o céu negro, estou em casa.

3
  As ruas fedem a urina, fezes, óleo e fuligem.
Sombras me cobrem. Eu me encolho no meu canto.
Não posso viver sem medo.
 
  4
  Não somos mais eternos.
Habitamos engradados de plástico, nosso mundo é virtual.
Enviamos sinais de nossa solidão ao universo inteiro.

5
Quebraremos as taças, esvaziaremos o vinho e a dor.
As casas – os prédios com seus fios invisíveis – cairão por terra.
Restará, nos cacos de vidro, na fuligem, somente a poesia.
 
6
Senhor, dai-nos paciência, dai-nos um pouco de orgulho.
Chafurdamos demais na lama. É o fim do mundo.
Senhor, dai-nos o êxtase de uma última chama.
 
7
A pátina do silêncio escorre das juntas da arte.




2 comentários:

Fernando Campanella disse...

Eu te leio, Brandão, e as palavras parecem ter saído de mim. Porque o medo é também meu. Porque a poesia é também minha. E porque elas, as palavras, são nossas companheiras na solidão, quando estamos no quarto. sós, e o universo da memória nos encanta, nos aflige.
Ah, belas são as palavras, e esse é orgulho que nos é dado, por Deus.
Forte abraço, meu amigo, e obrigado, sempre, pela presença, pelo carinho. Abraços na linda alma da Sônia também.

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

Habitamos tanto no plástico, quanto no medo e também no esquecimento... de tanto querer nos lembrar, nos perdemos neste labirinto de céu negro. Abs brandão