OS FUMOS DA CIDADE
1
Trouxe para a cidade o perfume do mato
e o perfume das
ostras e das gaivotas.
Viverão comigo
até eu morrer.
2
Nas ruas da
cidade,
sob o céu negro,
estou em casa.
3
As ruas fedem a
urina, fezes, óleo e fuligem.
Sombras me
cobrem. Eu me encolho no meu canto.
Não posso viver
sem medo.
4
Não somos mais
eternos.
Habitamos
engradados de plástico, nosso mundo é virtual.
Enviamos sinais
de nossa solidão ao universo inteiro.
5
Quebraremos as
taças, esvaziaremos o vinho e a dor.
As casas – os
prédios com seus fios invisíveis – cairão por terra.
Restará, nos cacos
de vidro, na fuligem, somente a poesia.
6
Senhor, dai-nos
paciência, dai-nos um pouco de orgulho.
Chafurdamos
demais na lama. É o fim do mundo.
Senhor, dai-nos
o êxtase de uma última chama.
7
A pátina do
silêncio escorre das juntas da arte.
2 comentários:
Eu te leio, Brandão, e as palavras parecem ter saído de mim. Porque o medo é também meu. Porque a poesia é também minha. E porque elas, as palavras, são nossas companheiras na solidão, quando estamos no quarto. sós, e o universo da memória nos encanta, nos aflige.
Ah, belas são as palavras, e esse é orgulho que nos é dado, por Deus.
Forte abraço, meu amigo, e obrigado, sempre, pela presença, pelo carinho. Abraços na linda alma da Sônia também.
Habitamos tanto no plástico, quanto no medo e também no esquecimento... de tanto querer nos lembrar, nos perdemos neste labirinto de céu negro. Abs brandão
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