sábado, 27 de novembro de 2010

Fábulas de Natal (1)





A HORA DO MENINO

Quando o menino quebrar a pedra
Dizendo uma oração sobre os ossos brancos
E gritar para a estrela da manhã: É a hora!
As águas despencarão da cachoeira do tempo

E inundarão os caminhos do homem.
As abelhas descerão do céu.
Os pássaros descerão do céu.
Enxames de anjos rasgarão as cortinas azuis.

Pode baixar a luz!
A virgem lavará a manhã com o sangue do menino.
O menino soltará fogo da boca.

A mulher canta o poema do abismo como um acalanto.
O quarto brilha, saem chamas do quarto.
O menino saiu das coxas da mulher
Para levar o sangue ao mundo.


A NOITE DO MILAGRE

A noite sobre o mar e os barcos dos pescadores,
Com o silêncio pairando como um pássaro morto.
Um cavalo em chamas galopava na montanha,
As árvores voavam para o céu com suas asas de anjo.

À borda do poço ouço o sermão do expatriado.
O galo vermelho se contorce, louco.
A gaivota voa negra sobre as ondas, a gaivota cega.
A égua se imobiliza de cascos erguidos, em vigília.

Estamos à espera do milagre.
A adormecida flutua com a casa em trevas.
Componho a face estranha no espelho.
Semeio flores azuis entre as espumas do mar.

O pescador mostra-me as chagas.
Esta é a noite da fé, a noite do milagre.
Toma o peixe e parte.

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Em 2007 fiz doze ou treze poemas de Natal. Várias fábulas de esperança. Vou postar aqui, aos poucos, neste Advento, esta minha preparação e espera pelo Menino.

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5 comentários:

Carla Farinazzi disse...

É isso, Brandão! É dessa forma que vejo o Natal. A espera pelo menino, tão lindamente descrito por você.
A espera pelo menino que mudou a história, que fez a história, e que, para mim, independentemente de religiões, é um exemplo maravilhoso de vida!

Beijos

Carla

Ira Buscacio disse...

Brandão,

Cada menino que sai das coxas de uma mulher tem na alma uma estrela e uma cruz, a ele cabe a escolha. Viver com o peso nos ombros ou com a luz nos olhos.
Sempre saio daqui mt melhor do que qnd chego.

Bjão e lindo domingo

Art'palavra disse...

Neste lugar alimentarei minha esperança, guiada pela estrela da poesia que anuncia a chegada do Deus-Menino. Paz e bem, Grauninha

Unknown disse...

José Carlos!

Que coisa mais linda! Quero deixar no meu blog, nas vésperas do Natal.

Só você poderia compor algo assim tão belo e real. Seria ótimo se esta fosse a visão de todos no dia em que se homenageia o Mestre!

Beijos, poeta

Mirze

dade amorim disse...

São dois poemas lindos. O tempo do advento é um dos mais bonitos que a igreja instituiu.
Beijo.