A CHUVA, ORAS
Chove lá
fora
como um cachorro.
O mundo não vai acabar
apesar do vulcão.
Quem nos salvará?, perguntamos
como um cachorro.
O mundo não vai acabar
apesar do vulcão.
Quem nos salvará?, perguntamos
e engolimos facas
e biscoitos do improvável.
Que poeira terrível,
que cinza densa me sufoca,
torna-se vidro
e tritura a minha alma?
Vontade de me jogar do alto de uma árvore
para dentro de um lago suave.
Meu barco está ancorado
porque não há timão que o governe
quando navega.
Verlaine,
onde Verlaine entra na história?
Ouço violinos e ciprestes
e pedras e cabras.
É João Cabral chamando-me à realidade?
É Rimbaud com suas aranhas
devorando violetas?
O vento me leva
e eu sei que a poesia
é água furando a pedra dura.
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