sábado, 4 de dezembro de 2010

Fábulas de Natal (2)





O MENINO NASCEU

O menino nasceu ao meu lado.
Um halo de luz fendia as trevas,
Vinha do alto e se expandia.
O galo arrebentou a garganta.

O cavalo cantou as palavras do poema.
Uma frágil parede nos separava do mundo.
O cavalo escarva o chão soltando fogo pelas ventas:
Era o meu poema queimando a noite.

O sangue inundava o quarto.
A caçamba do tempo vem do fundo do poço,
transbordando água limpa e fresca.
Trago o estigma na fronte.

Sou lavado pelo batismo do menino.
Vejo os ossos brancos sobre a pedra.
O menino ergue a chave com a mão pequena
E me abençoa.


   O POEMA DO MILAGRE

Sou uma pedra no meio da casa
Com os ossos do cão cruzados em cima.
Quando chegará o inimigo?
Sentaremos juntos, conversaremos, sorriremos?

Comungaremos a minha casa antes de nos estranharmos?
A minha mãe chora atrás da porta,
A cabeça coberta com o pano da dor.
Um espinho me penetra nos olhos com o poema do milagre.

O nome do menino me queima a língua.
Os olhos do menino estão em brasa e iluminam a noite.
A casa cai com a luz.

As flores voam, as pétalas são gotas de fogo.
A mulher entrega o menino ao estrangeiro.
O velho ergue o menino nos braços e canta.


                 ----------

                 ( poemas de Natal, 2007)

                  --------------



8 comentários:

Henrique Pimenta disse...

Adoráveis. Sinto que meu espírito natalino foi pras cucuias - sinto.

Jota Brasil disse...

Apesar de eu não possuir esse tal espirito natalino, gostei dos poemas

Unknown disse...

José Carlos!

O menino deve estar muito feliz por ter nascido ou re-nascido de forma tão bela!

"Trago o estigma na fronte"

Demais !

O poema do Milagre atinge um pouco mais além. Esses foram os melhores que já li!

Parabéns, poeta!

Beijos

Mirze

Fernando Campanella disse...

Natal, e a singeleza, o mito que nos formou, e nos acompanha, os significados mais profundos da vida nos tomam nessa época. Tempo de beleza, beleza na poesia manifesta de tua alma, Brandão. Sempre belas imagens da criação.
Um grande abraço,meu amigo.

Cristiano Melo disse...

Grande poeta,
Também não sou tão fã desta época, em que nossa sociedade distorceu a ponto de ser uma festança, uma gastança, uma comilança e etc.
Seus poemas nos trazem os motivos do que vem a ser o Natal, na sua verve sempre coesa e forte, cheia de significados e rica em imagens, a da "garganta do galo" vai ficar registrado.

Parabéns, sempre uma excelente leitura

Forte abraço

dade amorim disse...

Perfeita visão do significado do Natal, JC. O fecho do segundo poema é magistral.

Beijo pra você.

Anônimo disse...

Poemas profundos e belamente esculpidos.

Beijo!

Unknown disse...

José Carlos!

Venho lhe pedir que me deixe postar em meu blog este seu poema.

Nunca li nada tão lindo. E assim, espero sua permissão.

Beijos

Mirze

email: mirse03@gmail.com