domingo, 31 de maio de 2009

Poesia mínima



VAN GOGH

Por que o corvo
nesse amarelo-ouro
me rouba a alma?


A COR

A luz cai na relva,
mistura-se à sombra
e cria a cor.


EMILY DICKINSON

O retrato antigo
na parede da casa
não envelhece.


TEIA

A mosca pousa
na teia de aranha.
Busca a dor.


A LAGARTIXA

A lagartixa deixa
a sombra na parede
fria como ela.


A CADEIRA

A cadeira navega
no assoalho escuro
como num mar.


AQUÁRIO

Peixes nadam no aquário
dos seus olhos parados
na morte.


A SEREIA

O piano de cauda
é como uma sereia
fora do mar.


O CUCO

Cuco! Canta o cuco
de madeira e metal
– com uma tristeza infinita.


IDÍLIO

A cinza das cartas
no fundo da gaveta
entre as baratas.


O BALDE

O balde de borco
brilha no escuro
entre as panelas velhas.


O RELÓGIO

O relógio parado
ainda marca o tempo
na casa abandonada.


DELÍRIO

No linho dos lençóis
o lírio delira.


POESIA MÍNIMA

Quero a poesia mínima
das ranhuras de uma pétala seca
entre as páginas de um livro.


AINDA

A formiga morta
no cimento frio
ainda é poesia.

___________________

5 comentários:

Unknown disse...

apanho cada uma
destas pétalas
e deixo-as secando
no meu coração.

BAR DO BARDO disse...

o balde deste momento é belo e dialoga com a lata anterior

A SEREIA

O piano de cauda
é como uma sereia
fora do mar.


esse da sereia só a sensibilidade poderia ser eficiente e eficaz - e foi - e é


sempre bons textos - fica até chato de ler (ironiazinha e invejazinha)

abç.

- henrique pimenta

Anônimo disse...

Querido José Carlos,

"A mosca pousa
na teia de aranha.
Busca a dor."

Por que a gente também faz isso?
Bjs.

Elma Carneiro disse...

Os amarelos de Van Gogh me hipnotizam. Ferreira Gullar fez versos sobre o amarelo desse artista tão atribulado e incompreendido.
Agora sobre o nosso tamanduá-bandeira que você descreveu quando o viu, dá mesmo a impressão como se corresse sem pousar as patas no chão, principalmente as dianteiras por que ele tem o cuidado de preservar suas garras que são a sua principal arma. Na verdade só vi tamanduás em zoológico.
Às vezes nas estradas podemos encontrá-los atropelados e mortos.
Obrigada pela visita e comentário.
Um abraço e desejo uma ótima semana.

vieira calado disse...

Gostei destes exemplos.

Também cultivo a modalidade.

Um abraço

desde o outro lado do mar.