segunda-feira, 18 de maio de 2009
O deserto do poeta
O deserto fala comigo, grita, esperneia.
Sou areia ao vento, dunas, miragem.
Preencho o meu vazio com palavras
Como um poema, aceito o arco da forma.
Aprendo o silêncio com a música,
Carrego pássaros de sangue nos ombros,
Contemplo a rosa até queimar os olhos.
A minha vida é o violino do abismo.
Estou só como uma pedra sem árvore.
O poeta lavra a palavra com terra na boca,
Com espirais de areia e sol nos olhos.
O poeta é um cão, ladra na noite,
Disputa o osso do caos e perde.
Cavalgo para sempre o cavalo da loucura.
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10 comentários:
Apesar de 100% JCB, percebo que o espírito de Murilo Mendes flanou aqui.
Parabéns.
- Henrique Pimenta
"Um poeta é um mundo encerrado num homem." (Victor Hugo)
Bjs pra vc.
Amigo J.C.
"O poeta é um cão...", nunca me tinha lembrado dessa. Mas assim de repente se calhar é verdade. Excelente soneto.
Abraços
Victor Gil
Caro Pimenta,
Tem toda razão: o espírito de Murilo Mendes colou no meu. Quando fiz o 1º verso, com aquele "esperneia", parei: "Não posso continuar, isso é Murilo Mendes." Dois dias depois, escrevi por acaso: "Preencho o meu vazio com palavras / Como um poema, aceito o arco da forma." Achei bom isso. Quase ao mesmo tempo escrevi: "Contemplo a rosa até queimar os olhos." Pronto: tinha que terminar o poema. O "esperneia" fica como homenagem a Murilo Mendes.
Caro Victor Gil:
Elias Canetti escreveu: "O poeta é o cão do nosso tempo." Usei essa frase como epígrafe de um poema de meu 3º livro, Presença da Morte, de 1991. Agora, tentei glosá-la. Talvez tenha valido a pena. Talvez o defeito do poema, que o torna demais muriliano, seja o "esperneia" inicial. Mas, como disse ao Pimenta, posso deixá-lo como homenagem.
Muito obrigado, meus caros H. Pimenta e Victor Gil.
Um grande abraço,
Brandão.
Belas Letras
Poetas são assim, uma eterna inconstancia de sentimentos
saberes e falares.
Doce Beijo!
JC
Me fez lembrar de uma citação de Fernando Pessoa: "O poema é um delírio. Um delírio controlado, mas sempre um delírio."
Acho que todos nós cavalgamos este cavalo da loucura. Controlada, mas sempre uma loucura. ;)
Belo, como sempre.
Abraços
gostei do poema e gostei muito das respostas às leituras feitas...
é este diálogo que faz também a poesia...
abraço
Bonito, José Carlos, um soneto que faz refletir a arte de ser poeta. Beijo.
Tem muito abismo por aqui, Brandão.
Abismada fico
Acho que o "bardo" tem razão...mas que belíssima 3ª estrofe!
!
beijo
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