terça-feira, 26 de maio de 2009
Migalhas
A MESA
Sobre a mesa rústica
pratos e copos de barro.
E o pão repartido.
LEVEZA
É azul a água do sono.
Meu corpo leve paira
sobre as nuvens brancas.
A ARGILA
A argila da morte
coroa-me de vida
a vida.
O COPO
O copo de bruços
sobre a mesa vazia.
Brilha o nada dentro.
INFINITUDE
Beber-te
não mata a minha sede.
ESMOLA
Que me dás, ó infeliz,
que eu não te tenha dado?
O PESCADOR
Leva o pescador
um peixe maior do que ele,
menor que sua dor.
OS PASSOS
Quem percorre o caminho?
Uma borboleta?
Os passos de ninguém?
LAGO
A lua mergulha
na água do lago.
Ou a rã?
A LAVADEIRA
Passarinho branco e preto,
a lavadeira pipila
no tambor de lixo.
POÉTICA
As palavras do poema
são como as duas conchas
de uma ostra.
AQUI
Estou parado
na beira da estrada.
Mais nada.
O FERRO
Está sem carvão
o ferro de passar roupa.
Brilha no tempo.
PAISAGEM VERDE
A sombra verde das árvores
sobre o chão dos pobres
cheirando a lixo e dor.
A LOUCA
Com um peixe na mão,
uma mulher louca grita:
– Viva a vida!
_________
Meu poemeto Polpa, foi postado pelo Moacy Cirne,
com muita honra, no Balaio Porreta 1986 - http://balaiovermelho.blogspot.com/
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17 comentários:
Só para deixar testemunho da minha admiração por estas pequenas maravilhas que tens vindo a publicar.
Pequenos fragmentos de poesia. Migalhas não, pela sua grandiosidade.Um abraço.
Meu caro,
publiquei hoje, no Balaio, o primeiro dos muitos poemas seus que esperar editar, nas próximas semanas e/ou próximos meses.
Um abraço.
Olá J. C.
Migalhas de boa poesia. A migalha que com melhor sabor (e cheiro), foi:
"Com um peixe na mão,
uma mulher louca grita:
– Viva a vida!"
É deveras extraordinária. Só a tua imaginação consegue estas pequenas preciosidades de poesia.
Abraços
Victor Gil
Ei querido!
Sabe, depois que conheci esses "pequenos fragmentos de poesia" que vc faz até já me arrisco a escrever alguma coisa.
Achei muito legal seu comentário lá no Henrique.
Bjs procê!
LAGO
A lua mergulha
na água do lago.
Ou a rã?
Baixou Bashô...
Excelentes epigramas & hai-kus.
Me alimento de
migalhas
e
mentiras
Olha... Até que não vivo tão mal...
-------------------------------
Pode mandar mais dessas migalhas, meu caro! =)
("Infinitude" tá PERFEITO!)
1[]!
tenho tanto em comum com os passarinhos...
tão frágil quanto eles, vivo em busca e sobrevivo... de migalhas.
Lindíssimos, como sempre.
beijos
Pela primeira vez aqui venho, pois o encontrei em gente que aprecio.
Se me permitirm regressarei.
Saudações por sobre o azul atlântico.
Pode parar com essa história de "estou ficando velho" viu? E quem não está?
Vc é muito querido.
Bjs.
curvo-me à plasticidade da imagem com a PALAVRA!.
cordialmente.
(piano)
há meses que leio a poesia crónica no reader. mas não podia deixar de lhe agradecer as suas visitas e as palavras que deixou n'a tradução. gosto muito de o ler porque faz a poesia das coisas simples. e não é fácil... um grande beijinho. muito obrigada!
Tudo é muito grandioso aqui, onde encontro um pedaço de tempo para meditar sobre a simplicidade que reina em sua poesia. Paz e bem.
José Carlos, seus hai-kais estão inspiradíssimos. Como disse o Pimenta, baixou Bashô. Fantásticos. Não sei se é coincidência, mas, desta vez também, preferi o último, o da mulher louca e do peixe. Beijos.
A glória da amizade não é a mão estendida,
nem o sorriso carinhoso,
nem mesmo a delícia da companhia.
É a inspiração espiritual que vem quando você
descobre que alguém acredita e confia em você.
(Ralph Waldo Emerson)
Visite meu novo blogger
UMA ILHA PARA AMAR
http://eduardopoisl.blogspot.com/
Um grante abraço do amigo Eduardo Poisl
estas "Migalhas" deixaram-me repleta...
obrigada e um abraço
infinitude e poética são lindos!
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