domingo, 22 de junho de 2008

Caim















Carrego o sangue do meu irmão para toda a eternidade.

Eu sou o meu irmão morto com uma pedra na cabeça.


Aprendo o que é morrer, o que é acabar.

A morte é o silêncio de uma pedra.


Os lábios de Abel não dirão mais nenhuma palavra.

É isto a morte: este silêncio, este sangue sobre a terra.


Que farei com Abel? Que é que se faz com um morto?

Que farei comigo? Eu, que inventei a morte?


Nos olhos do meu irmão vejo o universo refletido.

No corpo morto eu conheço o meu tamanho de homem.


O sangue do meu irmão não clama por vingança:

É um espelho. É a essência do que sou.


É a marca do homem, seu direito e avesso.

O sangue do meu irmão morto me alimenta.


Um comentário:

Gabriel Bordignon disse...

Oi José Carlos,

Obrigado por ter lido minha crônica e pelas dicas. Gostei desse poema,principalmente da estrofe: "O sangue do meu irmão não clama por vingança: // É um espelho. É a essência do que sou." Me fez pensar sobre as atrocidades ainda cometidas por nós e nossa resignação.
(O pessoal me contou sobre segunda-feira, não pude ir, eles gostaram bastante.) (Postei um poema no overmundo, está na parte de edição...)