Carrego o sangue do meu irmão para toda a eternidade.
Eu sou o meu irmão morto com uma pedra na cabeça.
Aprendo o que é morrer, o que é acabar.
A morte é o silêncio de uma pedra.
Os lábios de Abel não dirão mais nenhuma palavra.
É isto a morte: este silêncio, este sangue sobre a terra.
Que farei com Abel? Que é que se faz com um morto?
Que farei comigo? Eu, que inventei a morte?
Nos olhos do meu irmão vejo o universo refletido.
No corpo morto eu conheço o meu tamanho de homem.
O sangue do meu irmão não clama por vingança:
É um espelho. É a essência do que sou.
É a marca do homem, seu direito e avesso.
O sangue do meu irmão morto me alimenta.
Um comentário:
Oi José Carlos,
Obrigado por ter lido minha crônica e pelas dicas. Gostei desse poema,principalmente da estrofe: "O sangue do meu irmão não clama por vingança: // É um espelho. É a essência do que sou." Me fez pensar sobre as atrocidades ainda cometidas por nós e nossa resignação.
(O pessoal me contou sobre segunda-feira, não pude ir, eles gostaram bastante.) (Postei um poema no overmundo, está na parte de edição...)
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