cereja
mulher deitada na terra
lábios vermelhos
cereja
marinha
a água na fonte clara
a mulher nua no cio
as gaivotas no azul
o céu e o mar e as risadas
os gansos
as rosas no lençol
e a minha
língua acesa
os gansos voaram
ao sol
os gerânios
os gerânios vermelhos
entre as folhas verdes e o sangue
ao sol
os morangos
morangos na garganta
tanta pressa na pele
nos lábios
o coração é um cachorro
pedindo água
a chuva o vento a folharada
andamos todos os caminhos
o amor bebe sôfrego
se afoga no abismo
nossos corpos resfolegam
absurdos
pitangas
eram tantas pitangas
no céu azul
na pitangueira verde
nós dois os
corpos estendidos quietos
ao pôr-do-sol
eu lhe mordi o pescoço
com as palavras nas mãos
e entre os dentes
o peito arfava
vegetal carne molhada
abismo
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