CANTO
DA PRIMAVERA
É primavera na terra transverberada.
As palavras cantam como fontes infatigáveis.
Tudo move as palavras.
Um trator,
um pássaro,
uma estrada,
uma estrela.
O perfume dos jacintos paira no ar
e cai
com a luz do sol fertilizando o sangue.
As raízes elevam-se leves
com o ofício dos espinhos e a defesa dos
marimbondos.
Ouço o martelo da primavera polindo as
flores e as estrelas
e os esqueletos dos cavalos
dos poetas – os cavalos transverberados
na noite líquida.
A loucura me guia, com a sua imanência e a
teia do êxtase.
O silêncio da candeia sobre a mesa, as
grandes sombras
esvoaçantes
e uma gota
de óleo
no escuro.
A primavera explode, uma serpente se enleia
nos meus braços, na garganta.
E eu canto.
Eu canto com a voz das coisas, que nunca se calam.
A rosa ilumina o sangue.
A pedra ilumina a rosa.
Os mortos iluminam a vida.
A primavera cresce na ponta dos dedos.
A primavera cresce na ponta da língua
transverberada.
José Carlos Mendes Brandão
Um comentário:
Por aqui, a distância que nos separa dessa frondosa Poesia faz dos nossos Poemas mais frios... ainda que não menos poéticos!... Cai chuva, há-de cair neve e o vento leva muitas palavras, essas mesmas que soprarão fortes rajadas de Poesia!...
Bom fim de semana
Abraço
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