quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O bezerro Bito




O bezerro Bito

Acaricio o focinho do bezerro
Bito, peludo e escuro, muitos anos
depois do adeus à infância e suas pastagens
de sonho e sol. Sou órfão de um bezerro.

O Bito ergue a cabeça e me olha triste
como se adivinhasse a dor futura.
O que seria feito de nós dois
no carrossel do tempo, que não para?

Morremos quando finda o sortilégio
que fazia o universo inteiro nosso.
Nunca mais o bezerro Bito berra

me chamando no pasto. Nunca mais
a lambida na cara como um beijo.
Nunca mais o menino e o seu bezerro.

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... Gregório Vaz apronta das suas: um extemporâneo poema de finados (ou de amor, se quiserem).

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12 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, quanta emoção! Bonita história.

Beijo.

Lídia Borges disse...

Estas palavras são pinceladas harmoniosas numa tela que representa uma cena do quotidiano da vida campestre.
Um quadro lindo!

L.B.

Edson Bueno de Camargo disse...

Parabéns pela seleção em Piracicaba. Um belo poema. Somos todos bezerros diante deste mundão.

Domingos Barroso disse...

A sua voz além da minha alma
permanece viva trazendo-me
paz (grande poeta e amigo)
trazendo um deleite indizível
que somente o silêncio
entende
...

José Carlos Brandão,
um forte abraço.

Ira Buscacio disse...

José,

Que dó do Bito!
Que dó do menino!

Bjsssss

Fernando Campanella disse...

Recebi teu poema, Brandão, e vim aqui agradecer pela maravilha enviada. Quanta singeleza, eu diria até a delicadeza do amor recuperado na memória. Foto maravilhosa do bezerro Bito também. O poema da penúltima postagem, 'A bênção do sol' é maravilhoso também.

Grande abraço, meu irmão em poesia.

Carla Farinazzi disse...

Brandão, o que você publica me lembra uma infância antiga, de sabor de laranja baiana, de sabor de café no terreiro, de cheiro de capim colonião, de bezerros mamando e suas mães nervosas com nossa aproximação... Me lembra tantas e tantas coisas boas. Naturais, da terra...

Beijo

Carla

Unknown disse...

José Carlos!

O "banner" da tartaruga está show!

Como você é forte, poeta! Deixei de lado uma vida de fazenda exatamente por ver um bezerro e um potrinho que amava, crescerem. No caso do bezerro, a finalidade seria o abate. Isso não suporto.

Muito lindo esse bezerro! Eles devem ser muito mais felizes que os homens.

Beijos, poeta!

Mirze

O Puma disse...

Bucólico e muito ezpressivo poeta

Gerana Damulakis disse...

Tão intenso de emoção, me deu vontade de acariciar também um focinho e sentir o mesmo que vc sentiu por ele.

Adriana Godoy disse...

Arrepiei, senti sua orfandade...beijo

Marcelo Novaes disse...

Brandão,



Ah..., a cronologia das perdas...


[Mas não só...].









Abraços.