quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Soneto monossilábico e Réquiem para W. H. Auden




Soneto monossilábico


Meu

pai

cai

réu.


Céu,

sai,

ai,

que eu


quero

ver

Deus,


mero,

ter

réus.


_____


1965.


______




Para não dizer que só falei de flores... – de plantas e bichos... Resolvi postar uns poemas diferentes. Como os três sonetos anteriores. E, para mostrar que faz tempo investigo a forma do soneto, este “Soneto monossilábico”.

E para não ficar tão monossilábico, um podcast do blog do meu amigo Wellington Leite. Um jurado do Mapa Cultural Paulista reclamava de, nas várias regiões do Estado que concorriam, não haver textos regionais. Mera falácia: a aldeia hoje é o mundo. E nesta aldeia global, posso ser um poeta ligado à terra – e ao mundo, do qual a terra faz parte (ou será o mundo que faz parte da Terra, agora com maiúscula?).

Se tiverem paciência, ouçam-me: http://conexaobrasilfm.blogspot.com/2010/09/primeira-postagem-de-podcast-jose.html

E, para quem, como eu, preferir ler:

Réquiem para W. H. Auden (1907-1973)

Parem as máquinas, parem todos os motores.
Queimem os livros, as enciclopédias, todas as cifras,
Todos os poemas, as palavras e as imagens,
Queimem o homem e a sua verdade implausível.

Morreu o poeta, o mundo não é o mesmo.
A memória do próprio tempo, das árvores e das águas
Desfaz-se ao contato humano, à vigília, ao clarão da aurora.
As paredes caem, os olhos explodem no labirinto.

O ouro da sombra desmorona, desmorona.
O azul do céu e o azul do mar são muito frágeis,
Não nos contaram que era tanta a solidão.

Parem as máquinas, chegamos ao esquecimento.
Queimem os poemas, as imagens continuam cegas e mudas,
Nós continuamos perplexos diante da porta sem fechadura.


O silêncio de Deus, 2009.

_______________

9 comentários:

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido Poeta
Apenas maravilhoso...ouvi em silêncio.

Beijinhos
Sonhadora

Unknown disse...

José Carlos!

Fiquei extasiada! O soneto monossilábico é a prova que MUNDO e TERRA estão interligados na genialidade de um poeta.

O Réquiem é belíssimo! Nos morros do Rio, existe uma profunda tristeza quando morre um dos poetas que viveu por lá. É uma coisa linda, eles tratam o poeta (sambista ou não) com um respeito de fazer chorar quem assiste e vê.

Belo demais tudo por aqui!

Beijos

Mirze

Luiza Maciel Nogueira disse...

genial Brandão! Essa conexão alimenta a vida de poesia não é mesmo e toda essa visão da natureza te faz poeta das coisas mais essenciais que existem na vida! é maravilhoso isso!

Beijos

Mar Arável disse...

Bons exercícios poéticos

Gerana Damulakis disse...

Bravo!

Marcelo Novaes disse...

Brandão,



Não falas só de flores. Os poemas são sobretudo metafísicos ou religiosos, dependendo da conotação que cada qual dê aos termos. para mim, são uma coisa só: metafísico-religiosos.





São muito bons poemas!








Abração!

frô disse...

Sobre o poema monossilabico...
incrivel...
denso!

frô disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

gostei do monosilábico.