terça-feira, 7 de setembro de 2010

O cachorro




O cachorro

O cachorro me olhou com o silêncio
lacrimejante das janelas-enigma,
sempre fechadas, sem palavras, sangue
e sal diluidor, e latiu forte

como a morte, como árvore de espantos.
O cachorro rompeu o seu silêncio
de pedra exausta: precisava a dor
dizer ao mundo. O sangue na terra

clamava aos céus, o breve fim, a angústia
milenar, consentida, mas angústia.
O cachorro floriu diante do mar,

em êxtase com a água, a eternidade
nos olhos mansos, vendo o tempo frágil
desfazer-se na fria areia efêmera.

______

14 comentários:

BAR DO BARDO disse...

Aqui vejo um fôlego azul acetinado... Au...

Unknown disse...

José Carlos!

Quem convive com animais, sabe que eles tem uma linguagem. Basta que nós prestemos atenção em seus olhos, porque seu silêncio fala.

Mais um belo poema! E me encanto neste espaço.

SEMPRE!

Beijos, poeta!

Mirze

dade amorim disse...

Uma perfeição, esse poema, José Carlos. E a foto também, linda e eloquente.
Um beijo.

Jota Brasil disse...

O tema morte (Se bem entendi é esse o tema né?) me é um fantasma na alma...se for de animais, mais ainda.
Emociona, entristece, mas enriquece a alma...

Anônimo disse...

Ah, como amo esses olhinhos do bichano.

Beijo.

Luiza Maciel Nogueira disse...

Os cães são maravilhosos, olhinhos doces e carentes! Poesia viva José Carlos!

Beijo

frô disse...

Senti a fugacidade do sentimento insano...

Lídia Borges disse...

Um poema tocante em que as palavras criam uma simbiose perfeita com a ilustração.

Um beijo

Ester disse...

"... nos olhos mansos, vendo o tempo frágil.."

que passagem linda, assim como todo o poema,

conheço certos olhos mansos que vê a vida de um ângulo singular e sempre me alegro com as palavras que deste olhar posso ler...

Abraços,

ANGELICA LINS disse...

Adoro olhares que tem linguagem.

Beijo

Adriana Godoy disse...

JC, muito lindo esse poema...me sensibilizou bastante. Ai, ai, au, au. Beijos

Gerana Damulakis disse...

"O cachorro floriu diante do mar": adorei.

Marcelo Novaes disse...

Brandão,


Este Cão é uma das Vozes do Coro.



Tudo Ora.


Ou Gane [o que ppode dar no Mesmo, dependendo de quem Ouve].



E quem veria só flores & bichos & terra?










Abraços.

Tais Luso de Carvalho disse...

O sofrimento de qualquer animal é um punhal em minhas costas; mais ainda de um cãonzinho; convivo com eles. Não sei, mas observo algo muito diferente nos animais enquanto aguardam pelo seu último suspiro.
bjs, Brandão.
tais luso