quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Dois poemas




A MOEDA DE SILÊNCIO

Nos olhos cinzas de névoa
A moeda do silêncio.
Os pássaros petrificados
Nas árvores secas.

Os sapatos à beira da estrada
À espera dos pés de ninguém.
Uma fina lâmina de vidro
Quebra-se.

Deus de areia, noite escura
De Deus.
Uma lâmpada sem óleo,

A luz negra,
A chave enferrujada
E a pátina no chão do deserto.


ESTRANGEIROS

Era madrugada e velávamos.
Descemos a montanha com o peito deserto.
Estranhos como deuses.
Nem sabemos o nosso próprio nome.

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Dois poemas de O Silêncio de Deus. A Moeda do Silêncio foi o último escrito, e Estrangeiros é um dos primeiros, feito há uns 30 anos - é um poema que resistiu ao tempo, continuo prezando muito, vendo nele um estranhamento (faz jus ao seu tema) que o torna especial.

A foto é das falésias do Beberibe, no Morro Branco, de quando fomos a Fortaleza, em abril deste ano. É o mesmo lugar onde bati a foto da capa d' O Silêncio de Deus.

8 comentários:

Cristina Fernandes disse...

Esse silêncio que a poesia reconhece, no ritmo e na pausa...
Um abraço
Chris

nydia bonetti disse...

Desertos e silêncios... Matéria prima básica dos poetas. Muito bons, Brandão.

Beijos

Adriana Godoy disse...

JC, também gostei muito de "Estrangeiros" justamente pelo inusitado que carrega em seus versos.

O outro lado da Moeda remete a imagens fortes e áridas...belamente escrito. Você é mesmo o Mestre Brandão, como o Bardo diz. Beijo.

Fernando Campanella disse...

"... uma lâmpada sem óleo..." "...descemos a montanha com o peito deserto..." "... noite escura de Deus..."

Dois poemas, trinta anos entre eles, e a mesma busca, o leitmotiv da alma, da tua poesia... Lindos poemas, abração, meu amigo.

Graça disse...

"Estranhos como deuses"____ são assim os poetas, também.

Adorei os dois poemas.

Beijos meus, querido José, um bom domingo.

NDORETTO disse...

Salve,Brandão! Estou enganada,ou trabalhamos juntos num projeto em 83 de Poesia Falada na Escola, eu,você e Carlos Vogt em Campinas? Vc tem algum parentesco com Maria Beatriz Rodrigues de Mattos?
Pelo sim ou pelo não, prazer e, ler seu blog

Abraço

Neusa Doretto

BAR DO BARDO disse...

O bom e velho estranhamento...

Roselane Calhelha disse...

Olá!

Gostei muito de suas poesias. Foi um prazer ter conhecido o seu blog. Tenho aprendido muito aqui. Agradeço muito o seu comentário em meu blog também.
Seja sempre bem-vindo!

Um abraço,

Roselane Calhelha