quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Flores roxas e outras quadras




9. FLORES ROXAS

As flores roxas do jacarandá
sorriem com o sol da primavera.
São cálices voltados para a terra,
com tudo que lhes resta da beleza.


10. LANCEM AO MAR

Lancem ao mar o meu corpo morto.
As águas o trouxeram, as águas o levarão.
O pouco sangue sobre as pedras
será uma rosa para Deus.


11. ESTOU MORTO

Estou morto no sonho da vida.
Procuro a minha carcaça queimando no ocaso.
Ainda sou um belo espetáculo.
A morte continua justificando a vida.


12. OS PÁSSAROS

Os pássaros estão mudos.
Voam, revoam, sombras inúteis.
Lembram os anjos que nos protegem;
logo serão estátuas frias no cemitério.


13. A MONTANHA

A montanha brilha ao sol poente
me indicando o caminho do pinheiro além-horizonte.
Eu sigo decidido, com toda a certeza do mundo nos olhos:
não importa o que vá encontrar.


14. TROUXE A MORTE

Trouxe a morte numa colher,
levou-a aos lábios com sofreguidão
como quem toma um prato de sopa.
Depois sentiu engulhos diante do abismo.


15. COMO TARTARUGAS

Somos uma raça esquecida.
Como tartarugas corremos para o mar,
inutilmente. Os cascos enfim virados para cima,
bebemos o vinho do sol.


16. A ARGILA

A areia fluía da minha mão. Sob os meus pés,
a argila tinha a consistência da carne do homem.
Olhei o céu, a terra, o mar azul.
Aprendi a palavra morte.

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11 comentários:

Anônimo disse...

Amo o roxo e todas as flores neste tom e gosto muito de vir aqui tb ler seu versos tão bonitos.
Agora, o senhor sumiu lá de casa heim!
Tá de mal de mim?
Abrs.

Teresa Vargas Feria disse...

I LIKE THAT.

BAR DO BARDO disse...

a morte experimenta a dose inexata


suas auadras nos levam
para

Adriana Godoy disse...

Você trata amorte de uma maneira leve, mas intensa ao mesmo tempo. JC,vc me surpreende sempre com esses poemas que fazem pensar, fazem sonhar e fazem a vida mais bonita. Parabéns.Beijo.

Fernando Campanella disse...

Somos uma raça esquecida.
Como tartarugas corremos para o mar,
inutilmente. Os cascos enfim virados para cima,
bebemos o vinho do sol.

Desculpe a ausência, Brandão, Lindas quadras, como a acima, um corte no tecido da existência, revelando a alma em dor leveza. Grande abraço.

nydia bonetti disse...

O mar, a terra, o céu. De onde viemos? Para onde vamos? Misturadas angustias e crenças, seguimos - a flor da vida nos mantém...

beijo, Brandão.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Lindo o seu poema.essas flores dizem bem o meu estado de alma.
Vou voltar.
Sonhadora

lírica disse...

Brandão
Vc é um mestre!
"A areia fluía da minha mão. Sob os meus pés,
a argila tinha a consistência da carne do homem.
Olhei o céu, a terra, o mar azul.
Aprendi a palavra morte."

...um dos meus livros de cabeceira é O Livro Tibetano da Vida e da morte, aprendo muito com ele e com vc também.
Bj
Lírica

Tais Luso de Carvalho disse...

Olá, Brandão:

'Estou morto no sonho da vida.
Procuro a minha carcaça queimando no ocaso.
Ainda sou um belo espetáculo.
A morte continua justificando a vida'.

A morte, com seu infinito mistério pode ser triste... mas também bela, justamente por tudo que a envolve.

bjs, amigo.
tais luso

Graça disse...

Destas quadras, a que mais gostei foi a 12. Os pássaros.


Beijo, José.

Unknown disse...

"A morte continua a justificar a vida" - SIM, claro

e as tuas quadras também.


beijo, josé carlos