quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Poalha de poemas
1. POALHA DE ESTRELAS
Uma poalha de estrelas me fica nos olhos
como uma toalha sacudida de diamantes
quando brilha o sol no orvalho da manhã.
A vida é nítida como um grito de pássaro.
8.
Não tenho sonhos. Acordo novo
como um dia de sol emerge da noite.
O girassol sorri para as abelhas
e tudo é presente no ouro da ampulheta.
11.
Deito-me ao sol dourado, sob o verde das árvores,
como um lago sereno com suas flores e pássaros.
A brisa ergue no ar a poeira fina dos estames
e a terra fertiliza-se como num encantamento.
10.
Chego à janela e vejo a rua e a montanha,
o céu, os astros e o infinito do universo
constelado. Consciente do que vejo e sinto,
gravo a palavra e a imagem que a transcende.
3.
Era tanta chuva sobre nós.
Uma gota e o mar transborda.
Quebrei o jarro, tantas rosas boiaram.
Se não morrêssemos, que lindo o dilúvio!
7.
Tomo da palavra como uma chave de fogo.
Ouço o canto das estrelas nas conchas marinhas.
O sino toca na montanha acordando o homem.
O meu tronco de árvore floresce e frutifica.
5. A CAVERNA
Eu vim da caverna ancestral.
Os mitos se esboroam, a casa da poesia
é a única morada de Deus.
A lâmpada de argila brilha ainda.
6.
O homem caminha dentro da noite escura.
Não sabe para onde vai: procura uma estrela.
Não tem memória, habita a concha do silêncio.
As manchas estranhas das árvores o apavoram.
4. O LAMPIÃO
O lampião da minha infância brilha e faz sombra
na mesa da cozinha, nas paredes, nas telhas altas
e no infinito, nos mistérios da noite e de Deus.
Sou pequeno hoje como então, no meu passado morto.
9. NO MEIO DA PONTE
Estou no meio da ponte, olhando o rio,
as águas negras regurgitando lá embaixo
como um pulmão com todas as árvores e estrelas
pulsando, o infinito contido na rede desta noite.
2. A VIDRAÇA DA CHUVA
Encosto o nariz à vidraça da chuva
que se embaça, em lágrimas, com o meu bafo.
A água cai e passa, fora, enquanto dentro
fico, com a minha alegria natural de ser.
______________
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13 comentários:
"A vida é nítida como um grito de pássaro." JC, que beleza esse verso. O que dizer então do conjunto da obra? Maravilhoso! Divino. Beijo.
"Era tanta chuva sobre nós.
Uma gota e o mar transborda.
Quebrei o jarro, tantas rosas boiaram.
Se não morrêssemos, que lindo o dilúvio!"
Lindo, lindo, lindo!
Tudo muito lindo!
Bjs.
Em êxtase...
Brandão, linda imagem da poalha do cosmo,sempre uma honra ler seus poemas, sucesso!Bj
Querido Poeta, venho aqui e percebo como meu vocabulário é pobre, escasso, limitado. Cada vez que o leio, noto como sou pequena e sem criatividade; repito-me sempre.
Como descrever a beleza de outras formas que não seja em aplausos e vibrações que nascem ali, na alma, que nesse momento mágico de admiração você escuta seu coração dizer: Puxa, eu sempre senti isso e não conseguia expressar aos outros! Ou ainda: Nunca havia visto isso por este lado!
Poeta José, há milhares de olhares em seus olhos que de uma forma doce e repleta de bondade nos faz olhar a vida assim:
"Encosto o nariz à vidraça da chuva
que se embaça, em lágrimas, com o meu bafo.
A água cai e passa, fora, enquanto dentro
fico, com a minha alegria natural de ser. "
Ou quem sabe, meio perdida digo a mim mesma: nunca havia pensado e sentido dessa forma:
"Não tenho sonhos. Acordo novo
como um dia de sol emerge da noite.
O girassol sorri para as abelhas
e tudo é presente no ouro da ampulheta."
Que Deus mantenha mil olhares em seus olhos.
O carinho da sua leitora de sempre!
beijo
Tua poesia me comove, Brandão.
Sabe que da minha janela também vejo rua, montanha, céu - o infinito. Quantas palavras vieram deste olhar na janela... beijos
Absorvendo cada verso
Genial isso!
"Consciente do que vejo e sinto,
gravo a palavra e a imagem que a transcende."
Aplausos, poetas.
Bjo.
Ai,Zé, fiquei comovida com seu comentário. Obrigado,querido!Agora quanto ao fazer poesia porque você vai morrer,oh, meu amigo, faça poesia,bolero,fox, rock and roll,valsa vienense, cante a mulher do vizinho, saia de um restaurante fino sem pagar a conta!!!
bjs
Neusa
"O lampião da minha infância brilha e faz sombra
na mesa da cozinha, nas paredes, nas telhas altas
e no infinito, nos mistérios da noite e de Deus.
Sou pequeno hoje como então, no meu passado morto."
Difícil escolher, mas certamente que é um privilégio ter diante dos olhos tantos versos maravilhosos.
Em relação as corujas realmente a gente nota algo diferente no seu olhar e penso que seja porque ela tem os olhos na frente na cabeça como nós humanos. A coruja olha de frente, mas seu olhar demonstra timidez e um certo temor aos homens.
Grata pela visita e comentário.
Um ótimo domingo para você.
Bjs
Eu vou andando por aqui, vadiando na leitura dos teus poemas e sinto-me bem.
Faz tanta falta a singeleza!
um beijo
Tanta beleza, agora que a chuva castiga nossa cidade há quase 24 horas, parece amenizar um pouco as aflições desse quase-dilúvio.
Beijo
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