JOÃO DE PEDRA
João de pedra sentado no cais do Recife
lembra a sua poesia de pedra e água contida,
o sentimento mínimo no equilíbrio ígneo
exposto ao sol e ao sal marinho corrosivo.
EQUILÍBRIO
A palavra tem o equilíbrio da pedra
mesmo se ave no ar ou água de rio
e ao mesmo tempo tem sangue de objeto
e principia quando se lhe aparam as arestas.
A MULHER TEM
A mulher tem pinheiros na língua
e o princípio da noite, como um rio,
a forma líquida da água nos lábios,
margem circular de madeira ou limo.
A PALAVRA É SUBTERRÂNEA
A palavra é subterrânea, como um peixe
ou alga no espelho côncavo do oceano.
As pálpebras da imagem situam e limitam
o objeto anfíbio bebido como um teorema.
A PALAVRA ARDE
A palavra arde e escande a promessa da rosa,
tigre no voo e vertigem nas árvores do crepúsculo.
O seu nascimento coroa o incêndio da paisagem
sobre a cinza das ideias, mínimas e consequentes.
A BAILADORA ANDALUZA
A bailadora andaluza esconde, mais que revela,
o que vai mostrando, quando se despoja, não das vestes
mas do ser, exposto ao sol, tão nítido que não se vê.
É a imagem da poesia, que transcende o objeto.
JOÃO CABRAL
A cabra resiste
comendo pedra.
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Hoje é o aniversário dos dez anos da morte de João Cabral, o mais importante poeta brasileiro, que legou a consciência crítica ao fazer poesia entre nós.
Tenho me exercitado em elaborar poemetos em forma de quadras; acho que essa forma fica bem para homenageá-lo. O último poemeto, já publicado entre meus Exercícos de Admiração, achei que ficaria bem repetir aqui.
12 comentários:
Seus poemas, Zé Carlos, sejam sonetos ou "poemetos em forma de quadras", são sempre muito bons, são aulas de poesia. Parabéns!
É verdade, dez anos sem João Cabral, que, entretanto, continua vivo nas palavras sempre exatas.
Grande abraço!
Grande e precisa homenagem ao João Cabral. Você éum mestre, JC, seja dos tercetos,quartetos, sonetos. Bem disse o Fred. O último, especialmente, um primor. Parabéns. Beijo.
Muito bem. Eu gostei!
Poemeto e poemuito...
Já 10 anos....
Tão grande João Cabral, e este João de Pedra que tu reescreves!
Obrigada e também me junto à homenagem.
beijo
Sem dúvida, Brandão: o mais importante dos nossos poetas.
Esta imagem do João de pedra olhando as águas é tão significativa, assim também a cabra comendo pedra: ambos resistem.
Beijos.
"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."
Fez bonita homenagem à lembrança do poeta!
Um abraço, ótimo final de semana
Querido José e Sônia:
Fiquei tão feliz com a notícia do prêmio, mas não surpresa. Desde que começei a ler vcs e a sentir essa escrita tão pura, tão forte e cheia de amor e vida, tinha certeza de que não era um blog qualquer. Havia "ali" algo bem maior e bem mais vivo. Talvez, o "SILÊNCIO DE DEUS" em vcs dois!
Seu livro, enquanto estou no sítio está passeando por diversas mãos! Minha mãe, meu pai, uma grande e "velha" amiga ( doutora em meio-ambiente e em 2010 acessora do Ministro do meio-ambiente. Acho que ela precisa ler essa sua poesia venecedora....rs).
Fico feliz por ter ganho, diversas vidas foram homenageadas.
Como vc mesmo citou:
"Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro e eu fora. ..."
Essa frase de Santo Agostinho abrange tanta coisa, tanta súplica e louvor, não é mesmo?
Bom, acho que nem preciso dizer que tornei-me mais do que leitora de blog.
Avise-me sobre a entrega do prêmio, sobre o lançamento do livro.
Meu amigo, vc escreve poesia porque sua alma é imortal e de onde ela estiver, nessa eternidade que nos abraça, continuará a banhar-se de todo êxtase que o alimenta: beleza !
Beijo aos dois c/ meu carinho e admiração sempre!
Olá, linda homenagem para um poeta. Lindo. Beijócas
Parabéns pelo prêmio, meu caríssimo amigo, que maravilha, você merece pela mais pura dedicação ao ofício da poesia. Transmita meus parabéns a Sonia também, dois poetas e fotógrafos na família. Fiquei muito feliz.
Gostei muito dessa homenagem a João Cabral, principalmente de 'A bailadora andaluza', uma homenagem à altura do mestre. Grande abraço.
Que linda homenagem amigo José Carlos! Esse poeta fez história. Adorei a foto, ficou belíssima, com o Teatro Santa Isabel e o Tribunal de Justica ao fundo.
Ótimo domingo a você.
José Carlos,
Belas quadras com uma dicção sua, ainda que dicção-homenagem.
Menos pétreas que limo.
Equilíbrio entre solar
e salino.
Abração,
Marcelo.
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