A gata
A gata me olha com seus olhos náufragos.
Era como se seu olhar viesse
do outro mundo. Lançava com os olhos
um grito silencioso, que gelava.
Havia gigantescas ondas, monstros
marinhos, corais, conchas e florestas
submersas em seus olhos de âmbar e ouro
líquidos, mal velando o abismo fundo.
Neles boiava o sal da eternidade.
Deus neles mergulhara na criação.
A luz primeira Deus criou nos olhos
da gata imemorial. O seu miado
surdo traz ecos dos enigmas do homem
diante do absoluto mar da origem.
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Poema detentor do 1º Prêmio “Cassiano Nunes” de Poesia, da Universidade de Brasília, junto a O cachorro e O cavalo (2º lugar, 2010), que postarei aqui nos próximos dias.
A gata é a da foto – é uma gata que apareceu em casa faz tempo, nem parece que já está velhinha. Não escrevi “gata imemorial”? Ela é capaz de sugerir muito.
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12 comentários:
é tão bom quando criamos afetos pelos bichinhos! Essa poesia demonstra tanta doçura!
Beijo
Bravo!
Vc captou a essência felina com maestria e não foi à toa a premiação.
Parabéns!!!!
Bj
Belo soneto!
E um olhar se fez poema aos olhos do poeta!
Parabéns!!!
Belíssima descrição do olhar felino e misterioso que estes nossos companheiros transportam, em si, desde tempos imemoriais. Tem toda a razão quando menciona que «a luz primeira Deus criou nos olhos»
Passeei no seu espaço e gostei do que vi. Certamente voltarei.
MariaIvone
Felinos são entes que vivem entre os dois mundos.
minha casa é povoada por gatos vivos e mortos, os vivos brincam com os fantasmas dos mortos.
Estou meio perdido no corguinho do template, me lembra infância, Ubarana, Sítio da Cabeceira. como se meu tio morto ainda cuidasse dos pés de café que foram derrubados.
Grande abraço na poesia.
Brandão,
De fato, é um olhar que parece ser "testemunho das idades".
Belo poema!
:)
Abraços.
Uma gata humanizada
no olhar felino do poeta
Excelente poema.Olharei melhor o olhar da gata da vizinha.
JC, eu como tenho dois gatos(uma gata e um gato) sei muito bem o que vc quer dizer...lindo e instigante poema. Beijo
Os felinos mistérios! Já ouvi dzer que gatos são as entrelinhas do etéreo. E que poema sonetado!
Forte abraço!
As garras desse poema, acarinham...
Beijos, querido!
me fez lembrar um escrito do Burroughs...
muito bom
abraço
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