quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A gata




A gata

A gata me olha com seus olhos náufragos.
Era como se seu olhar viesse
do outro mundo. Lançava com os olhos
um grito silencioso, que gelava.

Havia gigantescas ondas, monstros
marinhos, corais, conchas e florestas
submersas em seus olhos de âmbar e ouro
líquidos, mal velando o abismo fundo.

Neles boiava o sal da eternidade.
Deus neles mergulhara na criação.
A luz primeira Deus criou nos olhos

da gata imemorial. O seu miado
surdo traz ecos dos enigmas do homem
diante do absoluto mar da origem.

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Poema detentor do 1º Prêmio “Cassiano Nunes” de Poesia, da Universidade de Brasília, junto a O cachorro e O cavalo (2º lugar, 2010), que postarei aqui nos próximos dias.

A gata é a da foto – é uma gata que apareceu em casa faz tempo, nem parece que já está velhinha. Não escrevi “gata imemorial”? Ela é capaz de sugerir muito.

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12 comentários:

Luiza Maciel Nogueira disse...

é tão bom quando criamos afetos pelos bichinhos! Essa poesia demonstra tanta doçura!

Beijo

Ira Buscacio disse...

Bravo!

Vc captou a essência felina com maestria e não foi à toa a premiação.
Parabéns!!!!
Bj

Lídia Borges disse...

Belo soneto!

E um olhar se fez poema aos olhos do poeta!

Parabéns!!!

MariaIvone disse...

Belíssima descrição do olhar felino e misterioso que estes nossos companheiros transportam, em si, desde tempos imemoriais. Tem toda a razão quando menciona que «a luz primeira Deus criou nos olhos»

Passeei no seu espaço e gostei do que vi. Certamente voltarei.

MariaIvone

Edson Bueno de Camargo disse...

Felinos são entes que vivem entre os dois mundos.

minha casa é povoada por gatos vivos e mortos, os vivos brincam com os fantasmas dos mortos.

Estou meio perdido no corguinho do template, me lembra infância, Ubarana, Sítio da Cabeceira. como se meu tio morto ainda cuidasse dos pés de café que foram derrubados.

Grande abraço na poesia.

Marcelo Novaes disse...

Brandão,




De fato, é um olhar que parece ser "testemunho das idades".





Belo poema!



:)






Abraços.

Mar Arável disse...

Uma gata humanizada

no olhar felino do poeta

Gerana Damulakis disse...

Excelente poema.Olharei melhor o olhar da gata da vizinha.

Adriana Godoy disse...

JC, eu como tenho dois gatos(uma gata e um gato) sei muito bem o que vc quer dizer...lindo e instigante poema. Beijo

Wilson Torres Nanini disse...

Os felinos mistérios! Já ouvi dzer que gatos são as entrelinhas do etéreo. E que poema sonetado!

Forte abraço!

Cris de Souza disse...

As garras desse poema, acarinham...

Beijos, querido!

Juan Moravagine Carneiro disse...

me fez lembrar um escrito do Burroughs...

muito bom

abraço