quarta-feira, 14 de julho de 2010

Mucuripe



Mucuripe

Entre os barcos e as casas dos pescadores
Há uma mesa com seus bancos fincados no chão,
Alguns copos, um ou dois pratos, talheres
E bocas famintas e olhos arregalados.

Cachorros andam de um lado para o outro
Perseguindo a própria sombra,
Um resto de comida, a vida
Preguiçosa como os gatos pardos,

Que se esparramam por ali,
Na modorra de donos absolutos do lugar.
As árvores projetam a sua sombra verde
Sobre esse chão pobre, cheirando a lixo e dor.

Uma criança chora: é sinal de vida.
Um velho ergue uma garrafa de pinga
Enquanto exibe o peito coberto de tatuagens.
Uma mulher oferece um peixe e grita como louca: Viva a vida!

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O Sangue da Terra, 2010 - Fortaleza, CE.
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10 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do poema!

Beijo, José.

Anônimo disse...

Mas sempre é muito bom ler de novo.
Bjs.

Luiza Maciel Nogueira disse...

Espetacular, muitas cenas, muita poesia.

Beijos

Ribeiro Pedreira disse...

a vida se apresenta em forma de pão.

Marcantonio disse...

Parece que o poema já estava pronto e aguardava ser colhido pela sensibilidade mais alerta.

Mar Arável disse...

Quando uma mulher oferece um peixe

até o mar se deita

à mesa com velas

Sândrio cândido. disse...

um poema de imagens da terra.
imagens que habitam este ser mineiro.

Unknown disse...

J.C.Brandão!

Triste, mas belo!

O choro da criança é vida, e a mulher é louca mesmo para gritar Viva a vida!

"um resto de comida, a vida!

Fantástico e emocionante!

Parabéns, poeta!

Beijos

Mirze

Eleonora Marino Duarte disse...

aqui há uma colônia de pescadores também e fiquei impressionada como é universal a paisagem, a fome dos cães, as tatuagens, os velhos bêbados, as mulheres loucas e os gatos pardos... se eu for lá agora verei o teu poema!


muito bom!

abraços.

Gisele Freire disse...

Que beleza de poema Brandão!
Grande abraço
Gi