segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Naufrágio












Navios naufragados sonham à distância,

ramos de flores vêm dar à praia.


É o universo sem remorso: a ausência

de uma estrela a outra, e a renúncia.



Um corpo lançado à areia: abismo e exaustão.

Ouve a flauta: isto foi um jardim e garças,


as flores cresciam, quebravam os muros,

eram promessa, senão de permanência, de equilíbrio.


A luz da morte cresta as pétalas e as pedras.

Que busco na vida? A morte me oferece


a espiga dos dias, debulhados.

A morte é um peixe numa bandeja,


os olhos para os lados, alheia.

Abandono-me ao anzol, represo.


Os meus pés na areia e o esquecimento

nos ossos, flauta soprada pelo vento.

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