segunda-feira, 16 de abril de 2012

O OURIÇO



O ouriço eriça-se no vão da cerca
acuado pelo cão, que late, rosna
e fuça e ataca. Aguça as hastes
finas dos seus espinhos, e as aponta

contra o cão tão cruel que avança e morde,
e fica com a boca cravejada
de farpas afiadas como arpão.
Chora de funda dor o cão ferido.

Os espinhos penetram, rasgam, matam
de dor. Nascemos para a dor: doemos.
Nascemos para a morte, mas queremos
a viagem sem fim: a morte é de outrem.

O cão é testemunha cega e vã,
sombra feroz à porta do destino.
O ouriço crispa e eriça seus espinhos
            contra essa fúria desse cão-enigma.




2 comentários:

Fernando Campanella disse...

Somos essa fúria cega, vão, em busca da eternidade, mas o destino, o tempo, ou o nada, são mais implacáveis. Poema com uma ótima medida de versos, imagens precisas, tema poderoso, muito bom. Forte abraço, meu amigo.

Fernando Campanella disse...

Opa, houve um engano, eu quis dizer "vã" acima. Abraço.