domingo, 29 de janeiro de 2012

OS PATOS, OS MENINOS

















OS PATOS, OS MENINOS


Os meninos levaram o pato e a pata para nadar
No rio Tietê. Fazia sol, apesar de algumas
Nuvens. Os patos estavam eufóricos, quase mais
Que os meninos. Que riam, olhavam para o pato,
Olhavam para a pata, olhavam um para o outro,
E riam, riam a mais não poder.

Os patos mergulharam na água e gritaram,
Gritaram até perder o fôlego. Como não perderam
O fôlego, anoiteceu e ainda estavam gritando.
O pato nadava placidamente nas águas azuis
Como as do mar, a pata nadava para o lado oposto
E os dois gritavam a alegria da vida.

Um menino teria seus nove anos de idade, o outro
Era quase um adolescente. O mais velho parecia
Mais novo, com seu ar efeminado e meio chorão.
Foi preciso voltarem no dia seguinte para buscar
Os patos sumidos no rio feliz. Mas nem nesse dia
Os patos quiseram voltar. Aliás, os patos nem sabem
Querer ou não querer: os patos sabem nadar
E gritar a alegria da vida. 

Uma vez o menino mais novo segurou a pata,
Mas a pata se chacoalhou toda e saiu voando
E gritando. O menino mais velho caprichou
Na cara de choro, mas porque era seu costume
Essa cara delicada e dolorida.  Os meninos sabem
Que, quando os patos quiserem (sem querer!)
Voltarão para casa, com eles ou sem eles.



4 comentários:

Quintal de Om disse...

São os (sa)patos que fazem mesmo, o seu próprio caminho. No ar ou no chão, de volta pra casa, ou não...

Meu abraço.
Sam

Adriana Godoy disse...

Um delírio poético e aquático. Beijo

Flávio Antunes Soares disse...

"os patos nem sabem querer ou não querer", a poeticidade que há nesse verso me impressionou. Li teu poema repetidas vezes. É uma obra-prima.

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

Espero que eles nunca mais voltem.