quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

IDENTIDADE






IDENTIDADE


Como Kafka, fui um inseto monstruoso.

Fui uma toupeira protegida e sufocada sob a terra.

Fui um abutre e devorava a minha vítima parte por parte

até chegar à mais sensível e essencial, a língua.

Fui um rato que não conseguia mais cantar.

Fui um macaco que perdeu a identidade,

da qual conserva apenas o ódio ao amestramento.

Fui um cachorro existencialista.

Fui um chacal que amava o deserto.

Como Empédocles, fui um jovem e uma jovem,

um arbusto e uma ave

e um peixe mudo no mar.



2-1-12 – José Carlos Brandão




 

2 comentários:

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

Eu não sei o que fui, talvez apenas um espectro de mim. Mas ainda procuro minha identidade humildemente, assim como o Kafka e como você. Abraços, Brandão!

Rubens dos Santos disse...

"Fui o silêncio de algo sem vida que paira no ar de pássaros que amamos sem vêr..." Belo. obrigado por aparecer. até a próxima.