terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O espelho de bronze




                               
O CANÁRIO

O canário de ouro
entre as folhas da árvore
e os meus olhos.


A SOMBRA DAS NUVENS

Somente as nuvens fazem sombra
sobre as pedras e a areia do deserto.


O ESPELHO E O PÓ

O espelho reflete o pó sobre o relógio.
O pêndulo, pesado de sombra, não para.


VIRGÍLIO

Virgílio escreve o poema
do mar, dos deuses e dos homens.
Aos poucos a sua coroa de louros
transforma-se em bronze e ouro.


EVA

Eva recebe da serpente
uma maçã
e a minuciosa arte de amar.


O ESPELHO DE BRONZE

Eu sou aquele que esquece.
Eu sou o esquecimento.


ESCREVO PARA NÃO ESQUECER

A poesia é filha da memória.
As imagens no espelho se iluminam
sob as águas do esquecimento.


A ROCA

O fio segue-se a outro fio
e a meada se completa.
E a roca a fiar, a roca a fiar.


O HIBISCO

O hibisco estende o pecíolo
à frente de suas largas pétalas.
Ofertório à beleza vermelha.



9 comentários:

Fernando Campanella disse...

'...e a roca a fiar, a fiar', uma perfeita síntese do trabalho da memória, do artifício do poeta, Brandão, tanto esse poema da roca, como os outros dessa postagem.
Grande abraço.

Unknown disse...

AH! JOSÉ CARLOS BRANDÃO!

Cada verso um suspiro. Todos com uma beleza própria.

Deus ainda continua por essas estâncias!

Beijos

Mirze

Marcantonio disse...

Sim, o céu e o deserto são dois caminhos livres para as nuvens.

Abraço.

João disse...

Caramba, quanto planejamento bem produzido, bem bolado.. Demais!
Abrçs José

Ira Buscacio disse...

Brandão, querido,
Ser aquele que esquece, que dignidade!

Bjs

Cris de Souza disse...

alimentei meu espírito...

que belo banquete!

beijo, poeta.

Jota Brasil disse...

Muito Bom!!!!!
Apesar de eu não concordar com a história da maçã da EVA, mas literatura não precisa (Nem deve) conter realidade !!!!

Graça Pereira disse...

Eu sou aquele que esquece...Eu sou o esquecimento.
E o poeta pega nas palavras e transporta-as para a nossa memória porque a poesia é sua filha.
Belissimo!
Beijo.
Graça

Tais Luso de Carvalho disse...

Olá, José Carlos, gostei de todos, mas sempre um cala mais fundo:
'Eva recebe da serpente
uma maçã
e a minuciosa arte de amar.'

Agora... não me pergunte por que escolhi este!
Beijos, amigo, estava com saudades de passar por aqui, mas já são tantos blogs...
Tais Luso