quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Coisas



                               
A PALAVRA COISA

A poesia da palavra coisa.
O seu silêncio de ovo, de relógio.
A coisa é uma pedra no poema,
pedra de toque, fora e dentro: essência.


HORIZONTE

Chove lá fora, além das montanhas
no horizonte em frente
e num outro horizonte com que sonho sem fim.


FLOR DE PEDRA

A flor nasce na pedra,
a flor medra na pedra.
Nasce, medra, como tudo
para morrer.


NOTA

No velho livro,
uma data e a nota:
“Trocaram o nosso gato.”


NO MEIO DO CAMINHO

Tinha uma pedra no meio do caminho.
Pus de lado e sentei em cima
para descansar.


COMPOSIÇÃO

Entre coisa e cousa
componho o poema
com giz e lousa.


O GUARDA-CHUVA

Abro o guarda-chuva
contra as águas do dilúvio
e morro afogado.


ELÉTRICO

Meu céu ficou elétrico
na objetiva da minha câmara
e nas minhas retinas.


 A COISA
 
A poesia é uma coisa
que ninguém sabe o que é
e se soubesse, o que adiantaria?





8 comentários:

Jota Brasil disse...

Quanto "A COISA"...
Se soubéssemos, perderia a graça...o bom da poesia é navegar justamente pelo não saber. Isso a torna infinita.

Eliana Mora [El] disse...

"A poesia da palavra coisa.
O seu silêncio de ovo, de relógio.
A coisa é uma pedra no poema,
pedra de toque, fora e dentro: essência." [...]

a coisa da poesia é a alma de quem escreve; da pedra, sua formação, causa.

gostei, beijo.

Cynthia Lopes disse...

a poesia, esta coisa
palavra, pedra, chuva,
que nasce e morre,
nas páginas de um livro.
bem no meio do caminho
onde me sento,
entre uma cousa e outra.
(jogou a bola
eu entro no jogo)
bjs

Unknown disse...

Fenomenal!

Essas coisas que você faz são geniais. Poemas que nascem e brotam do nada para a luz!

Beijos, mestre!

Mirze

Claudia Almeida disse...

Amo ovos eles chocam os poemas!

Bjs

Poeta da Colina disse...

E chove nos sonhos, nesse mundo que secam sentimentos

Fátima Guerra (Mellíss) disse...

Querido Brandão
Havia chuva e flor, pedra, relógio, ovos, silêncio e poesia, horizonte lotado de sonhos, rimas feitas de nuvens, versos escritos nos dias...
Sua alma é livro, página aberta de um poema vivo.
Tenho caminhado sobre as pedras da estrada, mas procuro manter meu olhar nos reflexos da luz que brilha sobre elas.
Sua amizade me faz feliz.
Carinho,
Fátima Guerra.

dade amorim disse...

Sinto falta de vir aqui mais amiúde. Gosto demais de sua poesia. Esses poemas são pequenas joias, cada qual melhor. Acontece que ando em férias por uns lugares de conexão às vezes bem difícil.

Um beijo e até breve.