segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Elegia




ELEGIA

A terra domada sob o sol
à espera da chuva e da semente.

Planto o corpo à margem do tempo
como uma pedra ou uma estrela.

Os meus pés já caminharam todos os caminhos.

Debulhei as contas da infância
num cesto de vime e caruncho.

A árvore pende os galhos sem esperança,
no entanto floresceu e frutificou.
Os pássaros caem como frutos maduros.

A morte me saúda na porteira do curral.
Bebi toda a água do rio,
estou pronto para comer o meu quinhão de terra.

Tecendo a minha mortalha com o verde eterno
sob o céu claro,
aceno adeus com a pandorga ao vento.

A janela aberta para o canto,
a rosa sorri ao fim da tarde.

Não quero deter as águas do tempo.
A plantação está pronta para a colheita.

A lua beija o lago e a montanha.

(1-11-07)
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5 comentários:

Ira Buscacio disse...

Brandão, querido amigo,

Há blogs que são verdadeiros livros encantados e o seu é um dos meus prediletos. Venho sempre ler mais uma página e farto-me de poesia.
Adoro!

Bjs e uma semana bem linda pra ti

Domingos Barroso disse...

José Carlos Brandão
(amigo e imenso poeta)

que maravilhosa Elegia
que elo mágico com o encanto
...

Forte abraço.

Lídia Borges disse...

Da semente à colheita... Terra, água, tempo até à serenidade do fruto maduro.
Imenso este dizer!...


Um beijo

Anônimo disse...

Sua poesia sai como suor. Melhor, poreja como flor.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Caro Brandão,

O seu poema que nos mostra o que às vezes não queremos ver. Não me lembro onde li e quem disse que "a vida é a antevéspera da morte". É uma realidade dura e irremediável.

Grande abraço,
Pedro.