domingo, 6 de setembro de 2009
o haicai ensina que a beleza não morre
a coroa de gladíolos
em volta do chafariz
muros de musgo caem
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o mar era azul
nós dançávamos na chuva
árvores ventavam
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o lagarto de vidro
como uma cobra verde
desliza na água
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cicio da ramagem
murmúrio da fonte
sossego noturno
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nesse momento
ouvindo a noite
sou eu o mundo
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no tronco da árvore
o ninho pequeno
quatro bocas aflitas
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a clara paisagem
na moldura da janela
canta um bem-te-vi
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entre o musgo verde
o lírio roxo se inclina
para a água gelada
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o sol poente
tece as nuvens
com sangue
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a beleza
flor da morte
não morre
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as flores de limão
as abelhas zuniam
perfume doce
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nascemos doendo
a angústia escura
a luz cega
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coroada de sol
a nuvem iluminada
orlada de ouro
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mais luz mais luz
a miséria não tem fim
vejo Deus no azul
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carda e fia
doba e tece
e morre
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a beleza dói
como a sombra de Deus
sobre o universo
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10 comentários:
tudo bem b
om
a foto também
sem destacar o belo do belo, mas
"o lagarto de vidro
como uma cobra verde
desliza na água"
felicidades, mestre.
(não é sacanagem, a palavra de verificação é "bundali"... )
a beleza dói
como a sombra de Deus
sobre o universo
nesse momento
ouvindo a noite
sou eu o mundo
o mar era azul
nós dançávamos na chuva
árvores ventavam
...os três exemplos acima, e muito mais... a apreensão do essencial, do claro/escuro mistério, no instante.
Uma vez , olhei dentro de um oco de um bambu e vi três filhotinhos de coruja, bravinhos, com os biquinhos famintos. Fiz , então, estes versos infantis:
mãe-coruja fez seu ninho
lá no oco do bambu
- salta fora passarinho,
passa longe, urutu.
(Fernando Campanella)
Grande abraço, caríssimo amigo.
Você pega esses instantes e os transforma em pura poesia. Muita sensibilidade e beleza. Não dá pra escolher, mas gostei especialmente do último , da sombra de deus, imagem fortíssima. beijo.
Cinco, sete, cinco:
é a métrica exata
do poema mínimo.
Ótimos haicos.
Abração
nesse momento
ouvindo a noite
sou eu o mundo
nesse momento
te lendo e sentindo
sou eu e a sorte
lindo...
lindo...
beijo !
bonitos de doer... já que a beleza dói. e como.
abraços.
Está aí um poema que nos torna pequenos diante da beleza do Universo das palavras e imagens como aves riscando o céu...
Gostei!
Abraço
Brandão
Tuas palavras fazem voar de verdade!
Lindo!
Lírica
"... ouvindo a noite, sou eu e o mundo... mais luz, mais luz... vejo Deus no azul..."
E na camiseta: "Motivo - Eu faço poesia porque vou morrer".
Me inspiras um epitáfio:
... OUVI JAZZ, FIZ POESIA...
Gosto desses 'issos'
haicais são econômicos, consisos, e condensam muitas possibilidades.
Abraços e boa semana.
Sim, a beleza não morre.
Assim como não morre a poesia.
Um abraço.
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