domingo, 6 de setembro de 2009

o haicai ensina que a beleza não morre



a coroa de gladíolos
em volta do chafariz
muros de musgo caem
___________

o mar era azul
nós dançávamos na chuva
árvores ventavam
________

o lagarto de vidro
como uma cobra verde
desliza na água
__________

cicio da ramagem
murmúrio da fonte
sossego noturno
____________

nesse momento
ouvindo a noite
sou eu o mundo
_________

no tronco da árvore
o ninho pequeno
quatro bocas aflitas
___________

a clara paisagem
na moldura da janela
canta um bem-te-vi
_____________

entre o musgo verde
o lírio roxo se inclina
para a água gelada
_________________

o sol poente
tece as nuvens
com sangue
__________

a beleza
flor da morte
não morre
________

as flores de limão
as abelhas zuniam
perfume doce
_______

nascemos doendo
a angústia escura
a luz cega
__________

coroada de sol
a nuvem iluminada
orlada de ouro
___________

mais luz mais luz
a miséria não tem fim
vejo Deus no azul
_________

carda e fia
doba e tece
e morre
__________

a beleza dói
como a sombra de Deus
sobre o universo
_______

10 comentários:

BAR DO BARDO disse...

tudo bem b
om


a foto também


sem destacar o belo do belo, mas

"o lagarto de vidro
como uma cobra verde
desliza na água"

felicidades, mestre.


(não é sacanagem, a palavra de verificação é "bundali"... )

Fernando Campanella disse...

a beleza dói
como a sombra de Deus
sobre o universo

nesse momento
ouvindo a noite
sou eu o mundo

o mar era azul
nós dançávamos na chuva
árvores ventavam

...os três exemplos acima, e muito mais... a apreensão do essencial, do claro/escuro mistério, no instante.

Uma vez , olhei dentro de um oco de um bambu e vi três filhotinhos de coruja, bravinhos, com os biquinhos famintos. Fiz , então, estes versos infantis:

mãe-coruja fez seu ninho
lá no oco do bambu
- salta fora passarinho,
passa longe, urutu.
(Fernando Campanella)

Grande abraço, caríssimo amigo.

Adriana Godoy disse...

Você pega esses instantes e os transforma em pura poesia. Muita sensibilidade e beleza. Não dá pra escolher, mas gostei especialmente do último , da sombra de deus, imagem fortíssima. beijo.

Fred Matos disse...

Cinco, sete, cinco:
é a métrica exata
do poema mínimo.

Ótimos haicos.
Abração

Solange Maia disse...

nesse momento
ouvindo a noite
sou eu o mundo


nesse momento
te lendo e sentindo
sou eu e a sorte
lindo...
lindo...

beijo !

nydia bonetti disse...

bonitos de doer... já que a beleza dói. e como.
abraços.

Memória de Elefante disse...

Está aí um poema que nos torna pequenos diante da beleza do Universo das palavras e imagens como aves riscando o céu...
Gostei!

Abraço

lírica disse...

Brandão
Tuas palavras fazem voar de verdade!
Lindo!
Lírica

Sueli Maia (Mai) disse...

"... ouvindo a noite, sou eu e o mundo... mais luz, mais luz... vejo Deus no azul..."

E na camiseta: "Motivo - Eu faço poesia porque vou morrer".

Me inspiras um epitáfio:
... OUVI JAZZ, FIZ POESIA...

Gosto desses 'issos'
haicais são econômicos, consisos, e condensam muitas possibilidades.

Abraços e boa semana.

Moacy Cirne disse...

Sim, a beleza não morre.
Assim como não morre a poesia.

Um abraço.