O PÁSSARO
– Pássaro, o que você procura nos meus livros?
Tudo lhe é estranho neste meu pequeno quarto.
– Nem vejo o seu quarto, estou longe de você.
Nunca deixei os meus bosques, estou sobre a árvore
onde fiz o meu ninho, entenda doutra forma
Tudo o que lhe acontece, esquece este pássaro.
– Mas eu vejo de tão perto seus pés, seu bico.
– Sem dúvida você aproxima as distâncias,
Não tenho culpa se os seus olhos me encontraram.
– Mas você está aqui, já que me responde.
– Respondo porque sempre tive medo do homem.
Eu alimento os meus filhotes, sem descanso,
Eu os guardo escondidos no fundo de uma árvore
Que eu cria tão fechada como as suas paredes.
Deixe-me no meu galho, guarda suas palavras,
Tenho medo das suas ideias como de um tiro.
– Acalma o coração que eu paro de escrever.
– Mas que horror esconde a sua doçura confusa!
Ah! Você me matou, eu caio da minha árvore.
– Eu preciso ser só, até do olhar de um pássaro.
– Mas se eu estou lá longe, sob as minhas árvores!
Jules de Supervielle
tradução de J. C. Brandão
2 comentários:
Que beleza de foto, José Carlos!!! Apaixonante!
Lindo o contraste das cores. Show!!!
Bastante bonitos fotos e texto! Sempre arrasando, JC! Beijo
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