CANTO DE CISNE
1
Como um cisne,
canto para morrer. Quanto escrevi, quanto falei é nada. O meu canto apodrece os
jardins. Canto grave, com entonação esconsa.
Não fui o
guardião da beleza. As rosas incendiaram-se. Deitei ao mar o meu trabalho. As
coisas fulguram um instante, sublime, porque último. O sol ruirá com estrondo
ensurdecedor.
Ninguém ouve o
sol. Ninguém ouvirá mais nada.
O mar
continuará o seu trabalho. Polir, esculpir conchas e pedras in eternum. Eu
abandono as minhas pérolas. Abandono o meu cinzel.
Os meus olhos
luzem no escuro. Estou falando da solidão. O universo fulgura, só. Quando eu
morro. O silêncio da flor quando eu morro. Os pássaros pendem das árvores como
frutos. Como estrelas. Terrivelmente silenciosos.
O cisne se
apaga no lago.
2
Os olhos do
peixe não olham. Paralisados no ar seco. Laterais como a vida. O silêncio dos
olhos, ridículos, parados em solidão e beleza. Como o mármore.
Não temos mais
nenhuma palavra. As palavras recolheram-se ao dicionário, sem poesia. Sangue
nenhum.
3
Uma barata
resplandece sobre a mesa enquanto escrevo. Ratos voam. Morcegos. Um relâmpago
fende a treva. A minha treva.
Continuo,
cabisbaixo, cantando.
Difícil
fabricar a morte. Uma elaboração do frio. Aceitar o nada. As coisas de ar.
Deus se afasta
com a luz do eterno. Somos somente solidão quando morremos.
Um comentário:
Tão só quanto o canto do cisne é o nosso momento de morte. Espero demorar para ter esta experiência! rs. Brandão, desculpe a ausência... sinto falta de visitar aqui, ler os textos, mas estou estudando pra concursos públicos, e isto está tomando todo o meu tempo... mas vou procurar aparecer mais, aqui! Grande Abraço!
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