sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A GALINHA MANCA





                              
                                   A GALINHA MANCA

A galinha atravessa vagarosamente o terreiro.
Cada passo é quase uma queda
(como a vida).

A galinha é torta,
tem uma perna mais curta que a outra.
É uma galinha manca.

Atravessa o terreiro compenetrada como se estivesse
calculando
cada
movimento.
O terreiro é largo,
clareado aqui e ali por algumas réstias de sol.
O chão é coberto de terra vermelha, uma ou outra pedra
preta,
folhas, penas e dor.

A galinha é um bicho só.
Procura algum grão de milho, uma minhoca,
procura a sombra,
procura o sol.

A galinha conjuga os verbos da solidão.
Nenhuma outra galinha,
nenhum galo.
A vida parece sem sentido.

A galinha ergue a cabeça,
apruma o corpo,
soluça
e volta a caminhar.

É preciso presto caminhar. A galinha olha para um lado,
para o outro,
olha fixo para um objetivo determinado, um ponto que só ela vê.
E caminha.

Sente falta de uma muleta, talvez de uma bengala.
Mas caminha
tropeçando na própria perna,
caindo,
levantando.
Caminha.
A galinha mínima dominou o seu mundo mínimo.








3 comentários:

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

"A galinha mínima dominou o seu mundo mínimo". Genial! Gostei dessa poesia. Adaptação. Abs

Tania regina Contreiras disse...

Fui atraída pelo título. Houve uma galinha manca na minha infância. Resistiu à doença que dizimou outras tantas. E ficou manca. Cheiro de infância teu poema.
Beijos,

Adriana Godoy disse...

JC, tão triste, tão meigo, tão máximo, tão mínimo! Enfim, gostei de sua galinha manca. Quando eu morava em casa com quintal, eu tinha um galo que se deitava em cima de uma gata e passava a noite assim. Engraçado esses bichinhos... Beijo