JOAN MIRÓ
O pincel sábio pinta
o sonho
e o silêncio
Como num jardim a
flor que nasce sozinha
ou o rabanete e suas
folhas na horta da tela
Um jardim com burro
a vinha e as
oliveiras
a fazenda do sol com
a escada e a montanha
No carnaval do arlequim
a mulher do
fazendeiro tem os pés plantados na terra
suspensos no ar
A
alegria no ideograma da cor e da forma
a
freira e o pássaro
um
inseto e uma estrela
O boné frígio do
camponês
o cão ladrando para a
lua
a natureza-morta com
sapato velho
O caramujo e os
escaravelhos
o garfo e o pente
e uma pedra não é uma
pedra mas o corpo da cor
Os olhos são felizes
a concha dança no
palco
Não existem enigmas
a tinta negra na tela
branca
A mão na tela aplaude
os elementos simples
o
martelo bate no prego e voa uma ave cantando
A figura salta do
nada como um foguete
aceso nos olhos de
uma menina melancólica
Os dedos desenham a
música
do silêncio.
José Carlos Brandão
4 comentários:
Mais Miró, impossível, José Carlos. Perfeito.
Beijo.
José Carlos,
Seu poema parece a biografia de um Miró dos melhores.
E se "não existem enigmas", tudo é alegria espontânea.
Um relento em pleno festim, dos mais emocionantes!
Abraços, grande poeta das sensibilidades!
Igual, igual!!!
LINDO! LINDO!
Escreveu e transcreveu Miró!
Fantástico!
Beijos
Mirze
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